sábado, 28 de abril de 2012

O Conto da flor noturna


A Flor dizia ao sol:
- Bom dia Sol, como vai você?
O Sol respondia alegre em ver que a flor se abria só para ver o seu brilho:
- Olá flor, hoje eu nasci feliz!
Eles continuavam seu diálogo falando do vento, da água, das abelhas que vinham às plantas para poder fazer o mel. Viviam felizes até que a noite viesse e a Lua viesse se apresentar à flor, mas todas as vezes que a Lua acordava a flor já havia se fechado e voltado a dormir.
A Lua sentia-se triste e sozinha, já que as estrelas vinham sempre discutindo sobre quem brilhava mais. Ela ficava admirando os vaga-lumes, mas necessitando de alguém que admirasse a luz daqueles pequenos insetos tanto quanto ela, ficava tentando chamar atenção da flor. Sentia inveja do sol, tanto quanto das estrelas, e admirava os vaga lumes justamente pelo seu pequeno brilho, que não cessava ainda que tão pequeno. Chorava.
Um novo dia nascia, porém o Sol não aparecera esta manhã, a Flor que acordava, não acordava feliz, pois sem brilho, ela não tinha motivo para estar aberta e mostrar sua beleza. Ela olhava para o céu, mas o sol estava com muita preguiça para aparecer. Deixou com que nuvens cobrissem o céu e não acordou.
Achando que tinha sido abandonada, ficou irritada, decidiu que o Sol já não era tão bom, já que a chuva forte estava a atacando e o Sol nada fazia para tirá-la daquele momento. Dormiu então enquanto deitava-se em suas próprias lágrimas. Acordou com um brilho, mas era um brilho diferente. O céu estava escuro com exceção de uns pontinhos brancos e algo parecido com o sol, porém menor, só que por algum motivo mais bonito.
A Lua se apresentou:
- Olá, eu sou a Lua, sempre esperei pelo momento de te ver acordada, pelo momento de te mostrar a beleza dos vaga-lumes e até mesmo o brilho das estrelas, que ficam sempre brigando, mas são lindas de qualquer modo.
A Lua continuou contando sobre a beleza da noite, sobre o orvalho se formando no final da mesma, sobre o vento noturno e a Flor ao ouvir tudo isso, apaixonou-se pela noite. Dormia todo o dia e acordava toda a noite para ver a beleza da Lua que a havia conquistado.
O Sol não se importava, havia ainda cem mil flores iguais àquela flor, não precisava de mais uma, mas a Lua ficou emocionada, a Flor apaixonada, ninguém se magoou, ninguém mais chorou. Era tudo o que todos precisavam. Cada um encontrou o seu lugar, seu momento, sua vida.

sábado, 14 de abril de 2012

Eu, o Tempo e o Espelho

       Um dia olhei para o espelho, desejei então me conhecer. Nesse momento, foi permitido a mim, o poder de ver a mim mesmo sem precisar do espelho.
       Eu via a mim mesmo, o tempo todo, onde quer que eu fosse, podia me encontrar, me tocar, me conhecer. 
       O espelho, triste por sentir-se sem utilidade começou a chorar, o tempo ao ouvir aquele choro irritou-se e quis me castigar. Disse:
       - Fizeste o espelho chorar , impedindo assim meu descanso, agora, como castigo, tirarei teu tempo contigo mesmo, para que assim não possas te ver tanto como gostarias, nem te conhecer tão rápido como desejas, nem falar sobre tudo o que queres. Ficarás muito feliz quando puderes te ver, mas terás que aguentar a saudade toda a noite antes de dormir.
       Então eu podia ver a mim mesmo, mas não permanecia comigo mesmo, ia para a casa após um dia em minha companhia, ficava sozinho e sentia saudades, esperava o próximo dia, ansioso, esperando para poder me olhar novamente, enquanto isso, recorria ao espelho, até que pudesse me ver e conhecer mais de mim mesmo, cada vez tenho menos tempo comigo mesmo, e continuarei assim até que o espelho seja a única forma de me ver.
                   
                                                                                                                                      Ramesses Munhoz