segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Sinfonia exoesquelética

Eis que à noite aproximava-se, e eu musicava a minha quase noite com meus quase talentos musicais. Até que a noite de fato veio, e o vento não mais soprava, e o ventilador agora parava, meio que instantaneamente, meio que demorado porque faltou luz. E agora?

O calor aumentava e agora sem mais inspiração e sem uma temperatura que pudesse me ajudar a continuar a música. Como proceder? Uma noite sem luz e sem vento, temperatura alta e tudo derretendo. Me deito. Só que quando eu digo tudo derretendo, bom, minha cama também estava, então era tudo mesmo. Meus pensamentos começam a zumbir.
Minhas preocupações com o dia vão abrindo meus olhos e me fazendo ficar acordado, mas bem, não vejo nada se não um palmo de ar à minha frente. Lembranças me fazem levar meus braços à minha cabeça e pensar em quando isso poderia acabar. Me refiro à falta da luz e ao calor. Volto a pensar na música e, bem, aí é que eu me desespero. A ânsia por terminar aquilo que eu comecei me toma e tento me levantar, mas minhas costas estão grudadas na cama derretida e eu fico deitado.

Meus pensamentos param de zumbir tanto, mas continuo ouvindo zumbidos, insetos vindos de todas as direções, embora meu quarto tenha só uma porta, e eles vem com toda a força e com toda emoção zumbindo. E o início do zumbido parece muito com o que eu estava pensando, aparentemente, insetos sabem a linguagem dos pensamentos, ainda mais quanto à música. Continuam zumbindo até que a melodia do seu zumbido é nova pra mim, e os insetos-tenores começam a imprimir altos que eram os altos que eu queria, os insetos-barítonos também, até que a música fica completa. Era uma sinfonia, linda que me fez levantar da cama e terminar aquela música, do jeito que devia ser, do jeito que os insetos me mostraram. 
Num ato de agradecimento, os esmaguei.