sexta-feira, 6 de junho de 2014

Saudade Multilingue

Hoje acordei, tomei meu café, comi um pão quente — Pelinti. Me arrumei, saí do lugar e me preparei para o dia longo que teria pela frente, o dia que não sabia se ia, ou não, resistir. Queria que chegasse logo o outro dia — Zeg. Teria que sobreviver mais um dia pra isso. Parecia que estava na selva, me senti waldeinsamkeit, como qualquer alemão em uma floresta. A despeito da conjugação do que desconheço, fui adiante. Larguei minha caneca que estava úmida em baixo deixando uma marca sobre a mesa. Culaccino. E corri.

Parei a observar a rua, as poças no chão. Fixei meu olhar no horizonte sem nenhum pensamento aparente, desfoquei de qualquer universo — Boketto. Quando voltei a mim, a nostalgia tomou conta e uma raiva proveniente do sentimento que tinha fez com que eu pegasse uma pedra e jogasse uma pedra e fiz com que ela ricocheteasse pelas muitas águas que ali se reuniam — Plimpplamppletteren. Tornei a caminhar pisando em galhos e folhas que estavam jogados ao chão, — Kertek — chutando tudo o que eu via pela frente, tudo o que me deixava menos feliz. O problema desses dias é que tudo o que aparece, parece ser motivo para desanimar. 

Talvez eu seja daquelas pessoas que sonham de mais e fazem de menos — Luftmensch — o que poderia explicar o porquê de esse dia parecer tão ruim, tão lamentável. Talvez eu esteja tocando alaúde para uma vaca, — Dui niu tanqin — mas tudo isso está se tratando de como eu me senti, sendo compreensível, inteligível, ou nenhum dos dois. 

O curioso sobre esses dias é que não importa o quanto eu estou com o sentimento de Toska, tudo me leva a intensificá-lo. Passei por uma floresta, com árvores grandes e cheias de folhas, embora muitas estivessem caindo devido a estação, a folhagem estava quase inteira na copa dessas mesmas árvores fazendo com que a luz viesse por meio de feixes — Komorebi. Me sentei sobre as folhas secas, já não mais afetadas pelo orvalho fazendo com que novamente elas se quebrassem em meus ouvidos. Cocei minha cabeça tentando me lembrar o motivo de esse sentimento indescritível estar tão intenso em minha mente — Pana Poo.

No fim das contas, acho que dormi. Só lembro de ter lembrado de tudo o que podia ter me levado a estar ali, sentado sobre aquele chão, com luz desenhada vindo em minha direção, quase como se quisesse dizer algo. Meu pensamento foi Razbliuto, lembrei de uma afeição antiga, um carinho agradável, porém doloroso que tinha por quem já havia me deixado, vi o apreço que tenho por quem nunca deveria ter estado presente na minha vida, mas que sem a conhecer, eu seria outra pessoa. Eu pude ver naquele momento aqueles olhares, aqueles minutos, talvez horas que se passavam enquanto trocava olhares que diziam mais do que qualquer outra coisa — Mamihlapinatapei — aquela admiração mútua que se estendia a mãos dadas e abraços, a risos com motivos escondidos, aparentemente sem significado. Nesses encontros de olhos eram demonstrados todos os medos e receios, mas também toda a vontade e desejo de um dia algo acontecer e causar a estabilização sentimental e mental de ambas as partes.

Apesar de saber que estaria ali sozinho, sem mais ninguém ao meu redor, sem estar procurando ou esperando ninguém, ficava olhando para os lados e para trás, imaginando que alguém poderia estar vindo, que a qualquer momento podia chegar alguém e sentar do meu lado para conversar sobre tudo o que estava acontecendo. Acho que era isso que eu queria, esperava e espiava — Iktsuarpok. Engano meu e eu sabia. Esperei até a noite, andei em direção ao lago que ficava ali perto, e fiquei observando o reflexo da lua na água — Gumusservi. Dormi.