sábado, 22 de junho de 2013

Normalizar

Tempo, tempo meu.
quem tem mais tempo do que eu?
pra ser mais estranho, prazer mais feliz.

Jogo relógios pro espaço,
perco o jogo, perco tempo
fico sozinho ao estranhar, preciso mais normalizar.

Perco o espaço e perco o chão.
Perco o choro e a razão.
Perco o ar e perco vento.
Eu sinto muito, só lamento.

Tempo, tempo meu,
quem tem mais tempo do que eu?
e quem haverá de ter mais tempo do que eu?

Ando fugindo do Tempo,
sem saber onde vai dar,
esperando o momento para tudo se acertar.

Historiador de si

Apenas um rapaz, sentado em sua cama, lendo mais um livro de Foucault. Uma jarra de café ao seu lado, claro, não podia deixar o café de lado. Por um momento, uma crise, Foucault pensava arqueologicamente, e o rapaz também pensava assim, tudo era História, inclusive a sua vida.

Não era à toa que pensava em ser historiador, olhava sempre para o passado, mesmo que pensando no futuro. Pensava em tudo o que o fez chegar até aquele momento, desde que nasceu, o que o levara a pensar daquele modo, a agir daquele jeito, porque era escravo daqueles vícios, porque era tão diferente de si mesmo, e porque não conseguia adaptar-se. Não era à toa que pensava em ser historiador: ficava bisbilhotando o seu passado sem motivo algum, só por que achava interessante, ou talvez por um pouco de masoquismo. 

A sua vida estava encaminhada, tinha tudo o que precisava, livros, café, música, alguém para amar, um futuro garantido, e um presente estável, mas insistia em olhar atentamente para o seu passado e pensar. Pensava no "e se", pensava nos "porquês"; não chegava a conclusão nenhuma senão "tudo o que eu passei me trouxe até aqui", afinal, ele era fruto de suas escolhas, fruto do que ele tinha plantado, por mais clichê que possa parecer, "era o que tinha que acontecer". Se não tivesse perdido, não teria ganhado. Se não tivesse se atirado, não teria aprendido. O passado está presente, e sempre esteve, afinal, o tempo é relativo.

O presente que se ganha, é o passado que, ao trazer lembranças, trás o futuro em suas mãos. Não é algo linear, não é algo que ele mesmo fosse entender, só aplicava em sua vida. Não era algo que podia controlar; seu amor pela História muitas vezes o fazia perder a cabeça, o fazia lembrar de coisas que não queria, coisas que não interessavam... Passado. Mas para um historiador, o passado sempre interessa e talvez, mesmo que sem querer, fosse isso que o rapaz pensasse sobre o seu próprio passado. 

O poema que não deu certo.

Eu estava afim de fazer um poema
aqueles que a gente pensa na hora
aqueles que vem sem demora
sem pensar em rimas, sem esquema.

Pensei em algo improvisado, mas só o vácuo veio
até ser preenchido com um pouco daquele liquido preto
vazio de doce e forte em cheio
trouxe a ideia e, na minha mente, discreto
o texto pedia atenção.

Decidi ouví-lo, o pequeno recém nascido
que mal parido, já queria tudo falar.
Queria me orientar a buscar em mim mesmo,
e perdendo todo o medo, min'alma bisbilhotar.

Esqueceu-se porém, que tudo o que escrevo
vai além de meros pensamentos que vem de repente
nada ruim, nada sem ordem
afinal as palavras mal-ditas mordem,
mas as palavras certas dão relevo à mente
e atingem o homem para o seu bem.

Não adiantaria olhar para o fundo de mim
se assim não fosse achar nada,
palavras bonitas não são amadas
quando tem sentido ruim.