segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Xeque Mate

É, me ganhaste. Não que resida algum problema nisso, só que eu nunca fui um bom perdedor e acho que não mudei em momento algum. Não esperava a derrota, ainda que não soubesse jogar o jogo. Esperava que a minha mente me protegesse, estava crendo que minha inteligência poderia me manter avisado de qualquer coisa que pudesse acontecer. Não percebi que cada detalhe faz diferença num jogo como esse, mas o maior dos detalhes é que eu não sei as regras.

Na verdade, tem razão quando dizes que eu sou um inexperiente para jogos deste nível, de fato, nunca joguei nada assim e, sinceramente, não me importo com isso. Por outro lado, talvez pudesse entender cada movimento das suas peças se soubesse mais sobre como funciona tudo isso. Na verdade, acho que eu posso justificar a minha “ruindade” dizendo que eu mal penso nas minhas jogadas, apenas em como reagir às tuas, pois apesar de me deixares jogar primeiro, sabes muito mais que eu o que fazer a seguir e acabas com isso sempre tomando a dianteira nos ataques.

No entanto, sempre me deixas ir primeiro em tudo, eu gosto do jogo, mas isso sempre me chama atenção. Eu tento simplesmente realizar minhas jogadas em função das tuas, mas os teus movimentos são em sua maioria em resposta aos meus. Entendo o teu receio, na verdade, quando não querer agir antes de mim e admiro isso, admiro tuas jogadas e as tuas respostas às minhas sempre me deixam embasbacado, mas acima de tudo, gosto como me analisas a cada rodada enquanto eu analiso a tua análise, imaginando que deves estar prevendo cada movimento que eu possa fazer ou que, talvez, queiras me levar a algum lugar específico onde possas realizar com sucesso as tuas estratégias.

Bom, essa foi a nossa abertura, e ela ocorreu de um modo muito estranho, nunca imaginaríamos onde nossas peças estariam agora, verdadeiramente, foi uma abertura bem incomum, mas ao menos estamos com nossas peças mais importantes protegidas para que não precisemos nos preocupar com tristezas mais tarde, porém, todo o receio incluído nas nossas mãos enquanto mexemos os peões me assusta, pois gostaria que tudo nesse jogo fosse mais natural e espontâneo, sem medo e sem dúvidas… Não posso fazer nada, a confusão faz parte do esporte e eu já deveria ter me acostumado com isso.

No meio-jogo tudo ficou mais louco, e por isso mesmo, melhor! Sempre me ajudaste em todas as minhas jogadas e eu sempre te acompanhava nas tuas. Aconteceram muitos ataques, e eu desatento, perdi cavalo, torres e bispo. Isso é o que acontece quando, enquanto se joga, se fica pensando em ósculos, mas enfim… Com o cavalo que me restava osculei a dama mais charmosa - ou deveria dizer demente? - do tabuleiro. Isso me deu vantagem, mas ainda sim, minha derrota estava certa, pois com poucos movimentos certeiros me imobilizaste, deixaste com que não pudesse mais me mover para salvar o jogo, e agora tenho medo que qualquer movimento acabe com o jogo.

Chegamos ao fim do meio-jogo, mas não quer dizer que o jogo esteja acabando. Me ganhaste e isso é um fato, mas agora só posso pensar em tentar, de alguma forma, permanecer no jogo sem fazer movimento algum, se assim me permitires. Gostaria que desses os próximos movimentos, mas sem que tudo isso acabe, não estou pensando em ir a lugar algum, só em ficar sentado olhando para tudo, analisando tudo e vendo o quanto tudo isso é promissor. Me diz o que fazer, pra onde me mover… Ou melhor, não fala nada, não move nada, já me tens ganho e pode tudo continuar assim, já não quero te perder.
E nas palavras do Camelo: “Eu que já não quero mais ser um vencedor
Levo a vida devagar pra não faltar amor”.