quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

A voz do café

Era verão. Estava calor. MUITO CALOR, mas ainda sim, o rapaz não iria deixar de lado aquilo que tanto lhe apraz. Era quente, e daí? Ele não deixaria o amor de sua vida de lado por um simples calorzinho, nem que fossem 38ºC. Mais quente que o café que iria tomar era a sua inspiração e já que algo gelado não ia conseguir esfriar a vontade de botar pra fora o que estava pensando, decidiu fazer a inspiração evaporar com uma dose de café.
Café, café, ele amava café mais que tudo. já tinha deixado de trabalhar pra ficar em casa tomando café, descobrindo bandas novas e escrevendo. Ele deixava tudo pra última hora, e mesmo assim, no final, deixava de fazer para que pudesse tomar suas tão amadas xícaras de café. E não era um pouco não. Não era uma xícara de manhã, uma xícara à tarde, uma xícara à noite, não, eram muitos litros de café ao dia. Enquanto vivia com sua mãe, dava prejuízo a ela com a quantidade exorbitante de café que consumia. 
Mas o café era bom para ele também, graça ao café passou em muitas provas, fez muitos trabalhos a tempo e ainda, graças ao conhecimento que tinha sobre café, conseguiu ainda fazer mais alguns trabalhos escolares, e esse conhecimento também foi exigido em algumas provas, não era um conhecimento inútil de jeito algum, não que exista tal coisa como "conhecimento inútil", mas, de fato, o garoto extraia muito do seu amor e conhecimento pelo café.
Antes de julgá-lo pelo que alguns podem chamar de vício, vamos ver ao menos o que ele tem a dizer; Dizia ele que o café o inspirava e que também o amava, que aquilo que chamavam de vício era simplesmente um fascínio por uma arte, por um produto que faz parte da História da humanidade. Que o objeto de seu desejo foi responsável por crises e por revoluções, e que ajudou a construir culturas e estados. Não era à toa que precisava tanto saber sobre o café, não era à toa que o amava. E por isso bebia-o sempre, pois precisava saber o que o café tinha a mostrar, precisava ser inspirado e revolucionado pelo café, precisava dar ouvidos à voz do café.

Dedico a minha nova conhecida, Melina Ethel.
 

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Carta de Natal

Sei bem que não nasceste hoje, assim como também sei que não estás de aniversário hoje. Não estás fazendo 2013 anos e que a muito tempo atrás, um certo imperador romano fez um calendário bem errado. Bem, ainda que não nesta data, nasceste, deixaste de ser pai pra ser filho, deixaste de ser verbo pra ser carne.
Tu, que no início estavas lá, deixaste teu posto para assumir uma vida que certamente ia te trazer problemas, mas tudo isso para que viesses conhecer àqueles que tanto amavas, aqueles que criaste com todos os detalhes. Mas ainda que tenhas vindo para conhecer, não foste conhecido, não reconheceram teu rosto pela falta do brilho, pela falta dos bens que fazias a eles. Deixaste de ser belo, e deixaste as pessoas te desprezarem. Querias que te amassem simplesmente por Tu seres quem és, mas não foi o que aconteceu.
Ao invés de te amarem, disseram que tu não eras quem és, foi ferido e ainda quando ferido, não foi reconhecido. Zombavam de ti pois precisavas fazer o que foi feito para que eles tivessem o que tem hoje, diziam que tu deverias chamar teus anjos pra te salvarem, mas tu não deverias obedecer a eles, e não obedeceste. Ao contrário disso, deixaste o orgulho e foste exemplo do que dizias quando deste a outra face, mas de forma alguma deixarias aqueles que amavas sem o que vieste entregar. Cumpriste a tua parte no combinado até o fim, mesmo sabendo que as pessoas não fariam o mesmo.
Por amor aos que viviam em carne, choraste na hora da morte dos mesmos, e ainda por amor, não te importaste em receber o maior presente grego da História. Ainda que sofrendo, resolveste tomar o teu cálice, para que dentro do teu corpo fosse formado um antídoto para o maior veneno que existe. E na hora de tua morte, esse veneno, liberado, curou aqueles que estavam doentes, todos.
Tudo isso para que hoje todos os que foram curados pudessem comemorar o que comemoram, ainda que falsamente, ainda que hipocritamente, ainda que desconhecendo a verdade. Comemorar não o aniversário, mas simplesmente o fato de teres vindo a nós para que não mais o veneno nos matasse, mas que a cura para o veneno fosse a liberdade e para que o principal para que obtenhamos a cura seja a nossa proximidade contigo.
Não importa mais o resto, quero estar mais próximo de ti e receber a minha cura.

Att. 
Eu.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Então é verão

Ah, o Natal. Nada como o natal. É uma época única. Um tempo de múltiplos sentimentos simultâneos e paralelos. Momentos gratificantes, alegres, ao mesmo tempo simples e felizes, contrastando com a hipocrisia, cinismo e frieza, típicos somente dessa época do ano.
Realmente, é muito estranho que justamente na época mais quente do ano as pessoas fiquem tão frias, tão egoístas e com o coração tão duro. Com esse calor, não deveria ter coração que não derreta. Além de famílias, que já não são muito unidas no resto do ano, fingirem amar, ainda tem os relacionamentos que acabam em massa. Todos decidem terminar ao mesmo tempo e todos na mesma época do ano: O FIM!
Não apenas por ser O FIM do ano, mas também pelo calor. Parece que o que me disseram hoje faz muito sentido: 

"Ah, o verão
 os corações aquecem tanto
 acabam logo se separando:
 estou solteiro"

Faz sentido no final das contas.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

A Vadia Musicista

          Cara, que vadia. Ela é a pura definição do que uma vadia é. E bota vadia nisso. [ É aí que algumas pessoas entram dizendo: Não se fala assim de uma garota.] VADIA. Ela é uma vadia porque ela vadia e não só por ser uma vadia.
          Ao longo de todos esses anos, podendo estar num lugar diferente de onde está, por ser vadia, ficou parada sem ir pra frente, queria ser mais que uma simples vadia, mas tornou-se a vadia mais comum de todas. Não bastasse ser uma vez vadia, tornou-se duas, por ser vadia uma vez, teve que ser a segunda para que um dia deixasse de ser vadia. Mas não é que a vadia gostou de ser vadia?
          Calma, calma, vou contar tudo agora.
          A vadia vai se chamar Vadia aqui.
       Vadia desde pequena gostava de ficar deitada, deixar todo o trabalho de lado, ou de preferência, deixar pra outras pessoas. A pequena vadia tinha sonhos, planos, projetos, quereres e andares como todos nós, mas ela não fazia nada para nada, gostava de vadiar apenas.
         Um dia, Vadia queria aprender música, acabou descobrindo sua voz divina. Era o único instrumento que conseguia tocar sem muito esforço, uma vez que era tão vadia que não gostava de se esforçar pra aprender algo. Vadia era tão vadia que quis aprender todos os instrumentos e acabou não aprendendo nenhum, só cantava.
         Vadia cresceu, terminou a escola depois de muita vadiagem, não quis fazer faculdade, pois era muito vadia, era vadia demais pra trabalhar também e por isso foi sendo sustentada pelos pais até os pais se cansarem da vadia.
         Com o tempo, conheceu outras vadias como ela e aprendeu a ser vadia de outras formas. Conseguiu um emprego. Trabalhou como vadia por menos de um ano e deixou escapar sua voz, que ficou conhecida por ali. Seu chefe disse que pra ela continuar sendo vadia ali, tinha que deixar de ser vadia e aprender a tocar instrumentos para que ela fosse um diferencial naquele lugar.
        Deixou de ser vadia, mas nem tanto, primeiro porque não deixou de trabalhar ali, e segundo porque quando ela foi aprender a tocar os instrumentos, percebeu que tinha uma espécie de dom para aquilo e não precisou se esforçar tanto, a vadia sabia. Que vadia! Aos poucos, no lugar onde era vadia, começou a ir com o violão, a vadia tocava e cantava. Mas que vadia talentosa! Depois, violino, e por último, piano. Para isso, a vadia pediu que seu chefe comprasse um piano no local e que seu nome fosse estampado ali. O Piano da Vadia. 
        O Piano da Vadia fez sucesso, pessoas vinham de todos os lugares para ver a vadia entrar em cena. Ela fazia de tudo com o piano e também com os corações [e outras partes do corpo] das pessoas que iam vê-la. Ela era uma vadia mesmo. Mas era tão vadia, que conforme foi fazendo sucesso, começou a se dar folgas mesmo que não tivesse esse direito. Vadia foi deixando de lado a vida de vadia, já que tinha um dinheiro reservado, mas isso era muita vadiagem e por isso o seu chefe veio falar com ela e disse para a vadia deixar de ser tão vadia e começar a trabalhar direito como uma vadia que se preze.
         Voltou ao piano, voltou a ser vadia-de-tempo-integral, deixando a vida de vadia pra quando fosse se aposentar. Seguindo a rotina, piano, dinheiro na calcinha, um cigarro, um quarto, uma cerveja, um homem, mais um cigarro e de volta ao piano.
          Mas era uma sensação tão grande o Piano da Vadia que um pianista veio de longe para conhecer ela, tentou convencer ela a deixar a vida de vadia, porque com um talento desses ela não precisava trabalhar nesse tipo de ambiente, mas que ao invés disso tocasse piano e vadiasse em casa, onde tudo começara. Mas não bastasse isso. Uma oferta bastante tentadora para uma vadia como ela, mas a vadia não queria deixar a vida dela, ela amava ser vadia, ou ao menos tinha aprendido a amar a vida de vadia que estava tendo. E por mais que o pianista fizesse ofertas cada vez mais sedutoras para a jovem vadia, ela não quis, quis ser vadia lá, onde estava. Depois de até mesmo o pianista ofertar a própria casa para ela vadiar, ela não quis, preferiu ser vadia.
          Que vadia!