quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

A voz do café

Era verão. Estava calor. MUITO CALOR, mas ainda sim, o rapaz não iria deixar de lado aquilo que tanto lhe apraz. Era quente, e daí? Ele não deixaria o amor de sua vida de lado por um simples calorzinho, nem que fossem 38ºC. Mais quente que o café que iria tomar era a sua inspiração e já que algo gelado não ia conseguir esfriar a vontade de botar pra fora o que estava pensando, decidiu fazer a inspiração evaporar com uma dose de café.
Café, café, ele amava café mais que tudo. já tinha deixado de trabalhar pra ficar em casa tomando café, descobrindo bandas novas e escrevendo. Ele deixava tudo pra última hora, e mesmo assim, no final, deixava de fazer para que pudesse tomar suas tão amadas xícaras de café. E não era um pouco não. Não era uma xícara de manhã, uma xícara à tarde, uma xícara à noite, não, eram muitos litros de café ao dia. Enquanto vivia com sua mãe, dava prejuízo a ela com a quantidade exorbitante de café que consumia. 
Mas o café era bom para ele também, graça ao café passou em muitas provas, fez muitos trabalhos a tempo e ainda, graças ao conhecimento que tinha sobre café, conseguiu ainda fazer mais alguns trabalhos escolares, e esse conhecimento também foi exigido em algumas provas, não era um conhecimento inútil de jeito algum, não que exista tal coisa como "conhecimento inútil", mas, de fato, o garoto extraia muito do seu amor e conhecimento pelo café.
Antes de julgá-lo pelo que alguns podem chamar de vício, vamos ver ao menos o que ele tem a dizer; Dizia ele que o café o inspirava e que também o amava, que aquilo que chamavam de vício era simplesmente um fascínio por uma arte, por um produto que faz parte da História da humanidade. Que o objeto de seu desejo foi responsável por crises e por revoluções, e que ajudou a construir culturas e estados. Não era à toa que precisava tanto saber sobre o café, não era à toa que o amava. E por isso bebia-o sempre, pois precisava saber o que o café tinha a mostrar, precisava ser inspirado e revolucionado pelo café, precisava dar ouvidos à voz do café.

Dedico a minha nova conhecida, Melina Ethel.
 

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Carta de Natal

Sei bem que não nasceste hoje, assim como também sei que não estás de aniversário hoje. Não estás fazendo 2013 anos e que a muito tempo atrás, um certo imperador romano fez um calendário bem errado. Bem, ainda que não nesta data, nasceste, deixaste de ser pai pra ser filho, deixaste de ser verbo pra ser carne.
Tu, que no início estavas lá, deixaste teu posto para assumir uma vida que certamente ia te trazer problemas, mas tudo isso para que viesses conhecer àqueles que tanto amavas, aqueles que criaste com todos os detalhes. Mas ainda que tenhas vindo para conhecer, não foste conhecido, não reconheceram teu rosto pela falta do brilho, pela falta dos bens que fazias a eles. Deixaste de ser belo, e deixaste as pessoas te desprezarem. Querias que te amassem simplesmente por Tu seres quem és, mas não foi o que aconteceu.
Ao invés de te amarem, disseram que tu não eras quem és, foi ferido e ainda quando ferido, não foi reconhecido. Zombavam de ti pois precisavas fazer o que foi feito para que eles tivessem o que tem hoje, diziam que tu deverias chamar teus anjos pra te salvarem, mas tu não deverias obedecer a eles, e não obedeceste. Ao contrário disso, deixaste o orgulho e foste exemplo do que dizias quando deste a outra face, mas de forma alguma deixarias aqueles que amavas sem o que vieste entregar. Cumpriste a tua parte no combinado até o fim, mesmo sabendo que as pessoas não fariam o mesmo.
Por amor aos que viviam em carne, choraste na hora da morte dos mesmos, e ainda por amor, não te importaste em receber o maior presente grego da História. Ainda que sofrendo, resolveste tomar o teu cálice, para que dentro do teu corpo fosse formado um antídoto para o maior veneno que existe. E na hora de tua morte, esse veneno, liberado, curou aqueles que estavam doentes, todos.
Tudo isso para que hoje todos os que foram curados pudessem comemorar o que comemoram, ainda que falsamente, ainda que hipocritamente, ainda que desconhecendo a verdade. Comemorar não o aniversário, mas simplesmente o fato de teres vindo a nós para que não mais o veneno nos matasse, mas que a cura para o veneno fosse a liberdade e para que o principal para que obtenhamos a cura seja a nossa proximidade contigo.
Não importa mais o resto, quero estar mais próximo de ti e receber a minha cura.

Att. 
Eu.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Então é verão

Ah, o Natal. Nada como o natal. É uma época única. Um tempo de múltiplos sentimentos simultâneos e paralelos. Momentos gratificantes, alegres, ao mesmo tempo simples e felizes, contrastando com a hipocrisia, cinismo e frieza, típicos somente dessa época do ano.
Realmente, é muito estranho que justamente na época mais quente do ano as pessoas fiquem tão frias, tão egoístas e com o coração tão duro. Com esse calor, não deveria ter coração que não derreta. Além de famílias, que já não são muito unidas no resto do ano, fingirem amar, ainda tem os relacionamentos que acabam em massa. Todos decidem terminar ao mesmo tempo e todos na mesma época do ano: O FIM!
Não apenas por ser O FIM do ano, mas também pelo calor. Parece que o que me disseram hoje faz muito sentido: 

"Ah, o verão
 os corações aquecem tanto
 acabam logo se separando:
 estou solteiro"

Faz sentido no final das contas.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

A Vadia Musicista

          Cara, que vadia. Ela é a pura definição do que uma vadia é. E bota vadia nisso. [ É aí que algumas pessoas entram dizendo: Não se fala assim de uma garota.] VADIA. Ela é uma vadia porque ela vadia e não só por ser uma vadia.
          Ao longo de todos esses anos, podendo estar num lugar diferente de onde está, por ser vadia, ficou parada sem ir pra frente, queria ser mais que uma simples vadia, mas tornou-se a vadia mais comum de todas. Não bastasse ser uma vez vadia, tornou-se duas, por ser vadia uma vez, teve que ser a segunda para que um dia deixasse de ser vadia. Mas não é que a vadia gostou de ser vadia?
          Calma, calma, vou contar tudo agora.
          A vadia vai se chamar Vadia aqui.
       Vadia desde pequena gostava de ficar deitada, deixar todo o trabalho de lado, ou de preferência, deixar pra outras pessoas. A pequena vadia tinha sonhos, planos, projetos, quereres e andares como todos nós, mas ela não fazia nada para nada, gostava de vadiar apenas.
         Um dia, Vadia queria aprender música, acabou descobrindo sua voz divina. Era o único instrumento que conseguia tocar sem muito esforço, uma vez que era tão vadia que não gostava de se esforçar pra aprender algo. Vadia era tão vadia que quis aprender todos os instrumentos e acabou não aprendendo nenhum, só cantava.
         Vadia cresceu, terminou a escola depois de muita vadiagem, não quis fazer faculdade, pois era muito vadia, era vadia demais pra trabalhar também e por isso foi sendo sustentada pelos pais até os pais se cansarem da vadia.
         Com o tempo, conheceu outras vadias como ela e aprendeu a ser vadia de outras formas. Conseguiu um emprego. Trabalhou como vadia por menos de um ano e deixou escapar sua voz, que ficou conhecida por ali. Seu chefe disse que pra ela continuar sendo vadia ali, tinha que deixar de ser vadia e aprender a tocar instrumentos para que ela fosse um diferencial naquele lugar.
        Deixou de ser vadia, mas nem tanto, primeiro porque não deixou de trabalhar ali, e segundo porque quando ela foi aprender a tocar os instrumentos, percebeu que tinha uma espécie de dom para aquilo e não precisou se esforçar tanto, a vadia sabia. Que vadia! Aos poucos, no lugar onde era vadia, começou a ir com o violão, a vadia tocava e cantava. Mas que vadia talentosa! Depois, violino, e por último, piano. Para isso, a vadia pediu que seu chefe comprasse um piano no local e que seu nome fosse estampado ali. O Piano da Vadia. 
        O Piano da Vadia fez sucesso, pessoas vinham de todos os lugares para ver a vadia entrar em cena. Ela fazia de tudo com o piano e também com os corações [e outras partes do corpo] das pessoas que iam vê-la. Ela era uma vadia mesmo. Mas era tão vadia, que conforme foi fazendo sucesso, começou a se dar folgas mesmo que não tivesse esse direito. Vadia foi deixando de lado a vida de vadia, já que tinha um dinheiro reservado, mas isso era muita vadiagem e por isso o seu chefe veio falar com ela e disse para a vadia deixar de ser tão vadia e começar a trabalhar direito como uma vadia que se preze.
         Voltou ao piano, voltou a ser vadia-de-tempo-integral, deixando a vida de vadia pra quando fosse se aposentar. Seguindo a rotina, piano, dinheiro na calcinha, um cigarro, um quarto, uma cerveja, um homem, mais um cigarro e de volta ao piano.
          Mas era uma sensação tão grande o Piano da Vadia que um pianista veio de longe para conhecer ela, tentou convencer ela a deixar a vida de vadia, porque com um talento desses ela não precisava trabalhar nesse tipo de ambiente, mas que ao invés disso tocasse piano e vadiasse em casa, onde tudo começara. Mas não bastasse isso. Uma oferta bastante tentadora para uma vadia como ela, mas a vadia não queria deixar a vida dela, ela amava ser vadia, ou ao menos tinha aprendido a amar a vida de vadia que estava tendo. E por mais que o pianista fizesse ofertas cada vez mais sedutoras para a jovem vadia, ela não quis, quis ser vadia lá, onde estava. Depois de até mesmo o pianista ofertar a própria casa para ela vadiar, ela não quis, preferiu ser vadia.
          Que vadia!

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Engano

Depois de eu me convencer de que eu estava enganado, sinais são mostrados em luz para me fazer ver que eu estava certo, mas ainda espero que não.

É melhor estar errado às vezes, a vida fica bem mais fácil.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Mudança

Chega ao lugar
Joga tua mochila
deixa cair sem medo
quebrar tudo
não é estressado que se cochila

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Pescaria

               Estava olhando a rede, olhando atentamente, procurando antigos nós que podiam estar se desfazendo. E para matar a saudade da pescaria, resolvo ver como está todo o material. Olho as linhas enredadas e desenredo todas, busco novas iscas e novos anzóis, mas não me desfaço de minhas antigas linhas, varas e principalmente as redes. 
               Foi graças às redes que achei algo que nunca imaginaria achar. Bem, depois de muito tempo sem pescar nada, resolvi praticar jogando as redes em águas que ninguém costuma jogar, e nem sei o porquê, na verdade há uma lenda sobre isso, mas não é importante agora. Enfim, foi aí que achei o tal item que nunca imaginaria achar. 
               Um velho livro manchado de crônicas do qual já havia esquecido da existência. Agora, vendo que foi a única coisa pega por minha rede, recolho-a para o barco e pego o livro, um livro pequeno, incrivelmente seco e limpo, como se não tivesse estado na água todo esse tempo [como se eu soubesse quanto tempo ele esteve ali], em sua contracapa há um manuscrito ilegível e mais em baixo, algo que parece ser uma assinatura. Fechei o livro.
               Agora voltei com o barco para a margem deste rio, ou talvez um mar. Recolho tudo o que me pertence, incluindo o livro, e vou descansar. Mais tarde, bem mais tarde, à luz das velas em meu quarto, deitado em minha cama pego o livro mais uma vez. Com minhas mãos juntas e o livro no meio delas e fecho meus olhos, de um modo ritualístico abro o livro em uma página e eis o que diz em negrito e sublinhado, não mais um manuscrito: "Meu Clone". 
               E me deparo com a minha cabeça dilatando ao encontrar-me em confusão. Não sei o que isso quer dizer, mas parece que o livro está dialogando comigo. Marco a página. Tento colocá-lo na estante, mas ele fica me chamando, deito a cabeça em um travesseiro macio, daqueles que qualquer um coloca a cabeça e logo dorme, mas não foi assim, não esta noite. O livro me chamava e eu mandava calar, ele gritava e eu o tentava silenciar com outros livros, nada adiantava, por fim, peguei o livro novamente, abri na página marcada e li. Unidos por um --- só, uma --- monstro, um --- constante. A princípio, apenas literatura. um corte. Olho o dedo. uma música. Olho o violão. um espelho. NÃO.
               Algo parece começar a fazer sentido. Isso só pode ter sido feito por... Não pode ser... Não por... Olho para o espelho mais próximo e vejo a mim mesmo, agora com as mãos no rosto, esperando que a reação do espelho possa ser diferente da minha, e consequentemente perceber que tudo é um pesadelo. O pior de todos. Acordo, mas não porque eu estava tendo um pesadelo, e sim porque agora estava num estado de lucidez que não poderia atingir antes, minha mente foi transportada para a "última noite" antes de tudo ter acontecido. Na verdade, dependendo da noite, eu podia esperar ou não por tudo o que iria acontecer. E viajando pelo tempo tudo o que está escrito naquele livro recolhe-se em minha mente. Sei de tudo o que está escrito e tudo o que aconteceu para que este momento chegasse. E voltando para o presente percebo: fui eu. 
               Parece estranho, não? Eu ter escrito tudo isso e me esquecer assim. É que eu morri, morri para mim mesmo, e nem sei o porquê. Mas na verdade não era eu, eu mesmo. Era um outro eu. Um eu mais alto, mas com o cabelo igual, não só o cabelo na verdade. Era eu. E não havia quem negasse, todos nos conheciam e sabiam que eu era eu, mas sempre respeitando as diferenças entre eu. O que eu faria, eu nunca fiz, o que eu comia, nunca comi, na verdade, mas tudo estava em mim. 
               Havia "pessoas" "pra te mostrar que estou voltando", "pouco a pouco" "suplicando" o "verdadeiro amor" e todos eram letras, palavras, frases e todos agora estavam em mim e eram eu. Mas afinal, quem era eu? Porque teria escrito aquilo? e a resposta era simples: "Meu Clone".
               Peguei meu barco. Quatro da manhã. Joguei o livro na água. O mar do esquecimento. 
               Aparentemente caí no sono em meu barco.

***
               
               Acordei. Saí da cama para tomar café, uma dor de cabeça forte e palavras se mexendo em minha cabeça, melhor botá-las para fora. Escrevi.

Estranho

               Parece estranho eu dizer esta palavra, mas ao mesmo tempo é tão comum que chega a ser clichê. Estranho. Pode significar tanto, pode ser referido a tantas coisas. Mas hoje, Estranho significará e será referido a um único personagem, o Dr. William Eird.
               William, ou como assinava W. Eird era professor numa das maiores faculdades de seu país. Para todos os efeitos, W. Eird era um homem bastante comum, tinha uma casa bem grande, dois carros, dois filhos talentosíssimos, - que sabiam três línguas sem contar a materna, dois instrumentos e ainda pintavam e escreviam - uma esposa linda - e muito inteligente.
               Dava aulas na tal faculdade, e depois ainda conseguia tempo para cuidar de seus filhos, ser carinhoso com sua esposa e ainda pesquisar. Amava pesquisar. [Bem, agora se faz necessário dizer o que ele ensinava/estudava/pesquisava: Façam de conta que eu já disse que ele é Doutor em História Moderna]. E suas pesquisas o transportavam para o mundo em que gostava de viver. Não que não amasse sua vida, mas amava o passado, embora não amasse seu próprio passado.
               Sua vida tinha sido comum antes de conhecer sua esposa e antes de realizar seus sonhos, mas não o era para ele. Para Will, - como era chamado quando jovem - sua vida era complexa, detalhada, cheia de variáveis e nem todas eram consideradas sempre pelos outros, mas novamente, não para ele. William era bastante analista quanto as variáveis e detalhes que caracterizam ou caracterizaram sua vida, ele sempre levava tudo em consideração e isso o dava uma vantagem a ele em sua vida profissional, mas sempre causava problemas em sua própria vida pessoal. Por considerar variáveis demais, detalhes demais e todas as possibilidades possíveis, acabava sempre exagerando, mesmo quando os detalhes considerados não tinham relação alguma.
               Já em relação aos outros, sempre tinha a quantidade exata de fatos que o ajudavam a transcrever a História da vida de seus amigos, e também como seria a vida dos mesmos se decidissem realizar determinadas escolhas, mas não era capaz de prever seus próprios passos, o que o impediu de prever que perderia coisas que até certo momento eram preciosas para ele.
               Deveria saber que tudo o que perdeu era para o seu próprio bem, e sem aquelas perdas não teria ganho o prêmio final. O problema é que não podia conviver com o seu passado em seu presente. Não estava preparado para ouvir o "Como está ---?" porque ficaria sem jeito, não ficaria triste nem irritado, apenas sem jeito, sem saber que reação teria que ter e isso sim o deixava irritado. Era uma cena tão comum e que ia se repetindo ao passar dos séculos, então achava que deveria saber como reagir, mas ainda sim cria mais na visão da antiguidade, na qual, esse tipo de situação resultava em mortes. Mas não, a ideia era matar as lembranças e não pessoas.
               Além disso não podia ver as pessoas de seu passado, mas as via com muita frequência, era como se fosse perseguido por elas. Sentia-se como se fosse um astrônomo durante a inquisição, mas não o era, era um homem do século XXI, um homem que precisava deixar de lado certos causos do seu passado, mas que constantemente vinham a sua mente, quase como se uma voz soprasse todas as lembranças para dentro toda vez que berrava suas memórias para fora.
               Todo esse transtorno o afetava periodicamente, vinha e ia conforme convinha às próprias memórias, não conforme convinha à W. Eird. Realmente o seu passado estava nas suas costas e sempre o perseguindo, mas afinal, o passado faz parte da vida de uma pessoa, não? É o passado que constrói  não só o presente e o futuro, mas tudo o que eles significam. William não deveria esquecer o seu passado, ou ignorá-lo, mas entender que a sua história foi boa para com ele, e fazê-lo conhecer o bem que é a "vida do hoje" se comparado à "vida do ontem". O que William precisava entender, é que o passado dele é que o fez o grande historiador que era hoje.
               Will, mesmo que seja estranho, a sua história o tornou um verdadeiro historiador.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

"A História, como é praticada hoje, não se desvia dos acontecimentos; ao contrário, alarga sem cessar o campo dos mesmos; aí descobre, sem cessar, novas camadas, mais superfíciais ou mais profundas; isola sempre novos conjuntos onde eles são, às vezes, numerosos, densos e intercambiáveis, às vezes, raros e decisivos: das variações cotidianas de preço chega-se às inflações seculares. Mas o importante é que a história não considera um elemento sem definir a série da qual ele faz parte, sem especificar o modo de análise da qual esta depende, sem procurar conhecer a regularidade dos fenômenos e os limites de probabilidade de sua emergência, sem interrogar-se sobre as variações, as inflexões e a configuração da curva, sem querer determinar as contradições das quais dependem. Certamente a história há muito tempo não procura mais compreender os acontecimentos por um jogo de causas e efeitos na unidade informe de um grande devir, vagamente homogêneo ou rigidamente hierarquizado; mas não é pra reencontrar estruturas anteriores, estranhas, hostis ao acontecimento. É para estabelecer as séries diversas, entrecruzadas, divergentes muitas vezes, mas não autônomas, que permitem circunscrever o 'lugar' do acontecimento, as margens de sua contingência, as condições de sua aparição." - Foucault

Apaixonado

               Tá, tenho que admitir. Eu não queria, e tentei negar, tentei fugir, mudar de opinião mas não dá mais pra esconder, não dá pra evitar o óbvio. Dei mil-e-uma desculpas , mas nenhuma foi capaz de acabar com isso, nenhuma foi capaz de mentir para mim, ou mesmo de tentar esconder de mim mesmo a verdade mais cruel de todas, e a verdade mais cruel de todas é esta: Estou apaixonado.
                Não posso negar que acordo pensando nela, que passo o dia inteiro pensando no quanto ela me faz feliz, e à noite, quando vou me deitar, penso nela, e ao dormir, sonho com ela. Mas também não posso dizer que não sabia que isso aconteceria, não posso afirmar que não era o meu sonho, que não era o que eu mais queria, pois sempre quis que isso acontecesse. Sempre fui apaixonado por ela, mas só agora me veio a a certeza.
                Todos dizem que ela não vai me sustentar, mas eu sustentarei ela, muitos dizem que não vai dar certo, mas eu não ligo, farei dar certo, farei com que tudo se suceda da melhor forma possível. Eu confio nela, ela nunca me deu motivos para o contrário, e isso me faz bem, feliz. Continuarei confiando nela, pois tudo o que ela fala acontece, ou já aconteceu, e ela, por mais que alguns a façam mentir, não mente.
                Ela é demais! E não tenho muito a falar além disso. Ela é a resposta das minhas perguntas, o que eu preciso, mas mais que isso, o que eu quero e amo. Ela é a concatenação dos meus sonhos, desejos e quereres. Com quem eu quero viver e conviver.
                Ah, História, eu te amo.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Sei lá

               Sabe aquela taça vazia na sua frente? (Sei lá), pois é, não tem nada a te oferecer. De tanto beberes, já esvaziaste, secaste até as lágrimas que derramaste sobre ela. Já cansaste de servir novamente o champagne? (Sei lá) Já estás embriagado e nem sabes.
               Tuas dores te fizeram anestesiado e tu insistes nessa taça vazia? (Sei lá) Pois é, a dor pode voltar. E talvez seja por isso que ao invés de voltar a encher a taça, agora bebes o champagne direto da garrafa, sugando tudo o que ele tem a oferecer. Sei lá é tudo o que dizes, não importa o que aconteça com o champagne da garrafa. O gás das bolhas te enche, o líquido amarelado te deixa com mais medo do que está por vir, mas ao invés de parares e deixares a garrafa em paz, continuas esvaziando quem supostamente te faz bem. 
               Não quero te criticar por gostares tanto de champagne, mas só terá algo a te oferecer, enquanto tiver algum conteúdo, se esvaziares não terá mais champagne e será tão vazio quanto a taça, tão vazio quanto tu, sim, tu és vazio, vazio de tanto "sei lá". 
               Queres te encher com champagne, mas o champagne acaba. Respire, enche-te com o ar, o ar volta, enche-se novamente, e então podes usá-lo novamente. Olha para o mar e mergulha, te sentirás cheio e não precisarás esvaziar o mar. Enche-te com quem pode te encher, pois quem esvazia precisa ser enchido novamente, como a taça, como a garrafa.
               Mas se tanto insistes no teu champagne, ao menos prepare um vinho, e encha a garrafa no final. Que os pensamentos borbulhantes e turvos se tornem sangue, que suas uvas mudem de cor. Que tu entendas que as coisas têm que mudar se quiseres te encher. 

sábado, 22 de junho de 2013

Normalizar

Tempo, tempo meu.
quem tem mais tempo do que eu?
pra ser mais estranho, prazer mais feliz.

Jogo relógios pro espaço,
perco o jogo, perco tempo
fico sozinho ao estranhar, preciso mais normalizar.

Perco o espaço e perco o chão.
Perco o choro e a razão.
Perco o ar e perco vento.
Eu sinto muito, só lamento.

Tempo, tempo meu,
quem tem mais tempo do que eu?
e quem haverá de ter mais tempo do que eu?

Ando fugindo do Tempo,
sem saber onde vai dar,
esperando o momento para tudo se acertar.

Historiador de si

Apenas um rapaz, sentado em sua cama, lendo mais um livro de Foucault. Uma jarra de café ao seu lado, claro, não podia deixar o café de lado. Por um momento, uma crise, Foucault pensava arqueologicamente, e o rapaz também pensava assim, tudo era História, inclusive a sua vida.

Não era à toa que pensava em ser historiador, olhava sempre para o passado, mesmo que pensando no futuro. Pensava em tudo o que o fez chegar até aquele momento, desde que nasceu, o que o levara a pensar daquele modo, a agir daquele jeito, porque era escravo daqueles vícios, porque era tão diferente de si mesmo, e porque não conseguia adaptar-se. Não era à toa que pensava em ser historiador: ficava bisbilhotando o seu passado sem motivo algum, só por que achava interessante, ou talvez por um pouco de masoquismo. 

A sua vida estava encaminhada, tinha tudo o que precisava, livros, café, música, alguém para amar, um futuro garantido, e um presente estável, mas insistia em olhar atentamente para o seu passado e pensar. Pensava no "e se", pensava nos "porquês"; não chegava a conclusão nenhuma senão "tudo o que eu passei me trouxe até aqui", afinal, ele era fruto de suas escolhas, fruto do que ele tinha plantado, por mais clichê que possa parecer, "era o que tinha que acontecer". Se não tivesse perdido, não teria ganhado. Se não tivesse se atirado, não teria aprendido. O passado está presente, e sempre esteve, afinal, o tempo é relativo.

O presente que se ganha, é o passado que, ao trazer lembranças, trás o futuro em suas mãos. Não é algo linear, não é algo que ele mesmo fosse entender, só aplicava em sua vida. Não era algo que podia controlar; seu amor pela História muitas vezes o fazia perder a cabeça, o fazia lembrar de coisas que não queria, coisas que não interessavam... Passado. Mas para um historiador, o passado sempre interessa e talvez, mesmo que sem querer, fosse isso que o rapaz pensasse sobre o seu próprio passado. 

O poema que não deu certo.

Eu estava afim de fazer um poema
aqueles que a gente pensa na hora
aqueles que vem sem demora
sem pensar em rimas, sem esquema.

Pensei em algo improvisado, mas só o vácuo veio
até ser preenchido com um pouco daquele liquido preto
vazio de doce e forte em cheio
trouxe a ideia e, na minha mente, discreto
o texto pedia atenção.

Decidi ouví-lo, o pequeno recém nascido
que mal parido, já queria tudo falar.
Queria me orientar a buscar em mim mesmo,
e perdendo todo o medo, min'alma bisbilhotar.

Esqueceu-se porém, que tudo o que escrevo
vai além de meros pensamentos que vem de repente
nada ruim, nada sem ordem
afinal as palavras mal-ditas mordem,
mas as palavras certas dão relevo à mente
e atingem o homem para o seu bem.

Não adiantaria olhar para o fundo de mim
se assim não fosse achar nada,
palavras bonitas não são amadas
quando tem sentido ruim.




sexta-feira, 1 de março de 2013

Pontual (Last Nite) (Parte II)


Naquele dia, algo peculiar aconteceu. Pedro transpareceu suas dúvidas, suas tristezas. Era uma mudança enorme, entendia que sua pontualidade é que causava tudo isso, mas ainda sim queria tudo isso, sabia que ia mudar de vida, mas isso o preocupava. Melissa o abraçou. Sabendo tudo isso, disse:
- Ei, pê. Vai tudo ficar bem. Lembre-se da última noite, quando fizeram uma festa para você... Ainda que nem tenhas me convidado para ir ontem, ainda que eu não conheça quase ninguém que estava lá, sei que todos fizeram aquilo para te alegrar. São grandes mudanças, claro que são, mas tens com o que te preocupar, tens muitas pessoas contigo, e ainda que tenhas problemas com teus pais, acredito que eles também te ajudariam.
- É, não conheces meus pais...
- Eu sei que não, mas eles são teus pais, te amam.
- Eu quero que os conheça.
- Mas... Tudo bem, acho que é uma boa ideia.
- Eu sei que é meio cedo, não parece nem um pouco comigo, mas na situação atual, é o melhor a fazer, sabes que não é o melhor momento da minha vida.
Saíram do restaurante, foram dar uma volta. Acabaram indo pra casa dela, onde começaram a ouvir The Velvet Underground, viram filmes, e quando começava a anoitecer, Melissa via no rosto de Pedro uma tristeza que não ia embora. Disse:
- Oh baby, I feel so down.
- Não fica assim, meu bem, sabes que te ver bem vai me fazer bem, afinal, és uma das únicas coisas que ainda me fazem feliz. Oh baby, I don’t care no more.
E se despediram. Pedro foi pra casa, passando uns 15 minutos na rua, na cidade, pensando que não havia nada que o poderia deixar melhor. O que foi dito até agora, não explicou completamente o motivo da tristeza dele, mas isso vai ser explicado agora:
- Eu sonhei toda minha vida com este dia, o dia em que finalmente me livraria de tudo o que me causa problemas... Eu sei que assumiria novos problemas, mas melhores que os anteriores, ao menos é o que acho. – dizia em sua mente. – Eu tinha tantas expectativas, pensava que estaria trabalhando agora, e que nesse dia estaria me preparando para sair da casa dos meus pais. Não que eu não os ame, mas não consigo mais viver no meio de tanta arrogância, tanto orgulho. Esse não é o meu estilo de vida. Mas ninguém entende, as pessoas não entendem a dor que me causa, permanecer em um lugar que não me faz bem, um lugar que só me causa dor, já não me bastam os problemas que eu tenho fora de casa? Mas é isso, eles não entendem, e isso nem melissa entenderia, na verdade nem eu entenderei completamente.
Isso é o suficiente pra explicar, creio eu. No dia seguinte, novamente em um monólogo, começou:
- Last Night, she said, oh baby I feel so down. She had turned me off, when I feel left out. So I, I turned around: (and said) Oh little girl I don’t care no more, I know this for sure. E fui embora.

Pontual (12:51) (Parte I)


- Feliz aniversário! – Diziam aquelas vozes a Pedro. Uma multidão de amigos de seus pais, família, e algumas pessoas que ele convidou para o seu aniversário. Enquanto ele, em um canto qualquer, ficava pensando que tudo o que faziam aquele momento não tinha serventia nenhuma para ele, não estavam o deixando mais feliz por lembrarem-se dessa data.
De fato, ele não era desses que gostavam de lembrar-se do seu aniversário, já que para esse tipo de gente, aniversários só significam ficar mais velho, ter menos tempo de vida sobrando. Era o caso de Pedro, ainda mais fazendo 18.
Pedro era pontual, gostava de fazer tudo na hora certa, e ter 18 significava sim sair de casa, trabalhar, correr atrás do tempo, não olhar pra trás. Significava sim deixar de ser quem era antes pra ser um adulto. Essa pontualidade se mostrou quando no dia real de seu aniversário, havia chegado atrasado um minuto, num almoço marcado para 12h50min. Esse minuto era proposital, ficou exatamente um minuto fora do restaurante para onde ia, acalmando-se. Não quisera convidar a pessoa com quem iria almoçar para estar presente no dia anterior, mas estava ali, naquele dia, 12h51min, respirando fundo antes de entrar.
Já estava lá dentro a pessoa que com ele ia almoçar, a única pessoa que ainda conseguia fazê-lo por a cabeça no lugar enquanto ele perdia cabelos se preocupando com coisas não tão importantes da vida (de fato, Pedro reclamava demais). Melissa, sua namorada a umas semanas, uma ruiva que adora cinema e as mesmas bandas que Pedro.
 Quando estava perto de Melissa, tudo o que o preocupava sumia, ele ficava feliz. Ela o entendia, colocava-se no lugar dele, e estava lá o apoiando nas suas futuras decisões.Melissa disse:
- Parabéns, amor. – e se aproximando dele cantarolou – “Kiss me now that you’re older”. - Lembrando-se de uma das músicas favoritas de seu namorado.
- Sabes que é “Kiss me now that I’M older”. – Respondeu, fingindo estar bravo.
- Mas és tu que estás mais velho. – Melissa ao dizê-lo fingiu cara de triste . – Não reclame e venha aqui.
Ambos começaram a rir e se abraçaram. Sim, se beijaram também. Sentaram-se e comeram. Conversaram, riram. Ambos vestidos quase como nos anos 40, em um restaurante que também lembrava um pouco essa época. Sentiam-se tranquilos e em “casa” em lugares assim, quase como se pertencessem a essa era.
Lá tocava músicas dos anos 70, que eles adoravam. Sem se importar com nada, foram para o meio do restaurante e começaram a dançar. Chamavam a atenção de todos, pessoas conhecidas e desconhecidas, mas aos poucos, todos começavam a se levantar e dançar também. Melissa era a mais jovem ali, com seus 16 anos. Pedro com seus 18, naquele meio ainda parecia uma criança ao ver pessoas com 40 anos se levantarem e começarem a dançar, foi incrível a cena. Olharam o que estava acontecendo e sentaram-se rindo de velhinhos de uns 60 anos juntando-se a festa.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Moeda

Eis a teoria: cansei de mim mesmo, de me ver por aí. Cansei de cansar de mim mesmo, ainda mais ao saber que existem mais de um dentro de mim. Uma vez que em meu coração haja mais de um ser, não posso ser conivente comigo mesmo, com meus próprios desejos, perco a liberdade de ser quem eu sou, por haverem dois, talvez mais.

O mundo diria que estou ficando louco e muitas pessoas já concordam, mas não concordo com elas, nem comigo mesmo, o racional já perdeu sua racionalidade quando vai contra os seus próprios preceitos. Esse racional, que parece bom a alguns olhos, é aquele que me faz agir com frieza, e então vou ser tratado como um babaca. O extremo racional impede a vida de ser vivida como merece, por isso não se pode ser racional o tempo todo, e disso, o emocional sabe.

Esse segundo, vive às mágoas, parece bom ao ser gentil, carinhoso, mas quem realmente gosta disso hoje em dia? Ainda mais com o exagero da falta de equilíbrio do sentimental. Ele vem e vai intercalando com o racional, mas aparece sempre nos piores momentos, essa megera criatura, esse urso, embriagado de sentimentos chulos, sem sentido, vem demonstrando sua chatice quando menos é oportuno. Ele realmente me irrita... Aliás, os dois me irritam.

O que falta é o equilíbrio, é o momento oportuno para que eles apareçam, mas ao não saber isso, nem o racional é tão racional assim, nem o emocional é tão sensitivo. Ao mostrar o seu pior lado mostram que são coisas que eu não sou. Mas quem sou eu? Se os dois formam quem eu sou, então por que discordo tanto de mim mesmo a ponto de estar aqui, agora, escrevendo isso.

Eu tenho raiva, muita raiva, se não fosse eu mesmo, eu estaria me xingando, quase batendo em mim mesmo, até tirar sangue da alma. Dá vontade de sufocar tudo dentro de mim pra descobrir o que realmente seria eu sem esses dois. Se por muito sou inconsequente com os dois, o quão seria inconsequente sem eles?

O ser humano não pode ser tão previsível a ponto de se moldar a partir de um padrão, de um molde. Posso me moldar como eu quiser, posso viver como quiser, posso não saber quem eu sou, posso não saber o que vai ser de mim, mas eu não preciso deixar o racional, sem ele muito de mim vai embora, eu me perco, não tenho norte, perco o mundo ao meu redor, a noção. Também não posso deixar o emocional, um ser frio, manipulador, guiado por seus próprios pensamentos, porém não por desejos, pensamentos metódicos que pra nada servem quando não se tem emoção. Sem meu emocional, perderia o que me faz feliz. Então é necessário que ainda existam os dois, essa dupla implacável, essa dupla que me leva a loucura, sãos esses que formam minha essência, e o eu, que ainda tão pretensioso escreve sobre si mesmo, mesmo que não se conheça.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Memória

É, ainda não cansei,
sou surpreendido,
sou perdido,
o tempo faz o que não sei.

Das vezes que li,
quase sempre chorei.
Ao lembrar, não sei,
dúvidas do que senti.

Todas as memórias que o tempo traz,
asas de anjos,
lembrança tenaz.

Anos a mais, vidas demais,
ganham-se, perdem-se,
necessidades elementais.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

A metáfora da bala de café

Duas da Manhã. Hora de entender metáforas. Voltando no tempo e pensando naquela bala de café. Uma pequena aposta e três centímetros. Como teriam sido diferentes esses dois anos se eu tivesse entendido a metáfora. Uma demonstração maior que qualquer outra que já tivera visto, lâminas jogadas no lixo, cigarros jogados fora. Uma promessa.
Arrependimentos surgiram aí, por não conhecer pessoas, teve que dar uma bala. Essa bala demorando a ser falada, deixou um espaço curto para ser pensado, deu muito a entender, e paralisou.
Um mês se passara, a promessa continuava, estava prestes a terminar. Todos em abstinência. Um em especial, tremendo, surtando, enlouquecendo por não ter sua dose de néctar diário. Era um sacrifício necessário. Era. Para se fazer coisas boas, precisa-se passar por coisas ruins... Abstinência é uma dessas.
Às margens de um esgoto, sentada em um banco cheia da abstinência do seu fumacento néctar, enquanto deitado em suas pernas, aquele que tinha deixado o seu (amargo, porém saboroso,) néctar (para que cigarros se continuassem onde estavam), recebeu marcas do juramento, Essas marcas ficaram lá quase um mês a mais.
Época de festas. Distância é a característica predominante. As marcas ainda estavam lá, as memórias também. Lembranças de uma esquina, no mesmo dia que a marca foi feita. Um abraço, 15 longos minutos. Memórias que perduraram. A distância só fazia verdades aparecerem. "Só voltarei para aquela cidade pois tem uma pessoa importante para mim lá". Não foi tão educada assim. Ainda tinham mais verdades, e o vinho nos ajudaria, já que café não podia. "Gosto das pessoas que cantam Shine on".
Acabaram as verdades, mas não começaram as mentiras. Talvez uma verdade ainda existisse, na verdade, uma dúvida: Por que aqueles três centímetros? Por que aqueles quinze minutos? Um movimento, um passo, e tudo seria resolvido, mas não.
Após viagens, tempos e verdades, chegaram os marços e os maios. Mudaram perspectivas. Não mudaram opiniões. Se tivesse entendido a metáfora da bala de café, muitas coisas poderiam não ter acontecido.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Prévios pensamentos

Zumbidos,
quase como seres mortos
falando em meus ouvidos.

Ouço aquela ave,
com o piar grave,
parece que quer
que uma batalha se trave
e eu sem entender.

O zumbido confunde,
me deixa louco,
eu perdi as chaves
e nem sei onde
esse zumbido
não quero,
mas ouço

Sono,
mas o zumbido
não me deixa dormir,
ficou a noite rindo;
que vontade de sumir!

Que sumam esses medos,
esses prévios pensamentos,
esses mortos sem jeito,
zumbidos mudos
dentro do meu peito.

Haja paz
dentro da minha mente,
minha pobre, uma doente,
que durma quieta,
pois amanhã tem mais.



Laços e nós

O que teve um começo e não terá um fim, laços, fazem nós, se embaraçam, mas são laços, que nós não desfazemos. Ainda que a distância nos obrigue a puxar um pouquinho as pontas, laços não se desfazem. Pode chamar de cego esse nós que acabou existindo, já que não deixa de ser um nó mesmo quando se faz força para se desfazer. 
Laços são coisas que não podem ser simplesmente esquecidos, vemos eles todo o dia, pela manhã quando acordamos e nos levantamos, então botamos os sapatos, e ali veremos laços, ainda que nossos pés estejam longe de nossas cabeças, os nós que ali estão deixam claro o elo que existe entre dois fios que não se encaixam, dois cordões que por muito não concordaram. É importante dizer que isso não é simplesmente sobre esses dois cordões que se juntaram, mas sim sobre todas as linhas que ligaram os dois, as linhas que ajudaram esses cordões a se alinharem e concordarem, é sobre tudo. Sobre o início, e sobre não haver um fim, é sobre esperar pela noite para então deixar os nós de lado e descansar, mas apenas por um momento, já que os laços não deixarão de existir.
Este, está sendo escrito pra que a linha que costurou corações, não deixe marcas de pontos quando for puxada, quando for levada por um rio, um rio de um mês, que não é grande, mas é maior que aqui. Que o tamanho do rio não desate o que aqui foi unido, todos os laços, todos os nós, amizades, namoros, que essa corda, chamada saudade aperte o coração, mas só o suficiente pra saber que os elos não deixaram de existir, e mais uma vez, que não deixem de existir os nós e laços que aqui foram criados.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Os "Por que não"

Talvez eu nunca mais fosse voltar atrás, estava levando a vida normalmente, ou ao menos quase isso... Sabe quando se tem certeza de algo e acontece algo que muda tudo? Então, aconteceu. Aconteceu como acontece o anoitecer.
Anoiteceu. Uma série de pensamentos veio a mente desse que vos escreve, por uma imensa falta de auto-controle, fez algo que nunca achava que faria. Voltei atrás. Como se ninguém nunca tivesse feito isso antes, ou ainda pior, como se eu nunca tivesse feito isso antes, mas novamente um pensamento descontrolado me acometeu. Por que não?
Cometi. Talvez não tenha sido tão ruim pensar no "Por que não", embora não saiba se foi realmente uma boa ideia, não tenho porque me arrepender, ao menos por enquanto. Nessa hora todo o irracional acaba desaparecendo por falta de provas e a gente pensa ter razão nas ações inconsequentes, mas por que não?
Chamei, falei, disse, conversei... Parece que funcionou... mas porque eu fui fazer isto? Por que sim?
Agora vejo que o "não" pode não ser suficiente, e que as metalinguagens acabem se explicando, e que meu subconsciente perceba se o que cometi foi um erro ou um mero acaso que me proporcionou um acerto. Que o auto-conhecimento, que o mundo tem de si, me mostre a verdade, e responda os porquês e os "por que não".
E talvez a resposta ainda seja: Por que não?

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

O Bardo


Eu sou o bardo desta geração,
acordo, escrevo,
faço uma canção.
Das aventuras que me lembro
todo o dia,
de alma e coração,
canto a melodia.

Sou o bardo que canta,
que ama o que faz,
que canta a vida
e não deixa nada pra trás,
sou o bardo que anda
milhas à pé,
que viaja sem nada
seguindo a maré

Conto lendas de além dos montes
de covis vastos
e lugares profundos,
com bárbaros e guerreiros
castelos e torres.

Falo de dragões, 
fúrias e fogo,
elfos e druidas, 
magias e calabouços.

E por isso,
a partir de hoje estarei aqui,
contando pra vós as coisas que vi,
nada de anormal ou incomum,
só aquilo que acontece
na mente de alguns,
aventuras que aventureiros
vivem sem cessar,
aventuras acontecidas
em algum outro lugar.

Clichê

Cansado
comum
desgastado

sábado, 2 de fevereiro de 2013

O prendedor

Sentado na cozinha, uma xícara na mão, um olhar distante, um prendedor no varal.- Por que não tem roupas nele? - Não há ninguém em casa, só eu e os pássaros no telhado, também moscas nas frutas, nada de relevante.

Torno a olhar para o varal, olhar aquele único prendedor em uma corda, uma linha enorme. Me aproximo e percebo que tem um outro prendedor, agora um prendedor com algo preso, uma meia. Com um gole do líquido preto, amargo, quente e esclarecedor, penso: Eu não sou um prendedor.

Me encontro cada vez mais próximo daquela meia solitária e a solto. Eu não sou um prendedor. Não prendo nada, não prendo ninguém, não me prendo. Foi necessário um prendedor, um líquido-oráculo e vários anos para que eu entendesse que se a minha vida fosse um varal, esses prendedores estariam marcando interrupções. Vazio ou com roupas, só modificaria o peso da interrupção, vazio ou com roupas, só determinaria se a interrupção envolve outras pessoas ou não.

Eu não sou um prendedor, e quero não prender nada, também não quero ser preso. Quero ser livre, e quero estar ali, na vida pacata de um varal. ficar parado, pouco tensionado, às vezes relaxado, às vezes esticado, porém nunca cheio, também nunca vazio, mas que não hajam prendedores para que não hajam pesos, que haja leveza e liberdade, não só para mim, para todos, já que como eu falei: Eu não sou um prendedor.

Primeira Pessoa

Os anos se passam
e também eu

Ganho palavras, inspirações
agora meus

Passam-se sóis, luas
outonos e verões
estações e momentos
que se esvaem em minhas mãos

Mas quando tudo passa,
agora sou eu
e quando tenho mais nada
ainda mais sou meu

Consigo ler,
escrever
sair
viver

Consigo olhar pra mim
(e mesmo que alguns discordem)
pra minha essência

No meio de tudo
achar
eu

Em tantas escolhas
saber o que é meu

Sei
porque a primeira pessoa
entendo
porque se entoa
a supremacia do que se é
do que se tem
do que vem de si
e não outrem

Sim
não se caçoa
mesmo que risível
ainda que não visível
o eu.

Entendo sim,
que sou eu
e imagino
ser meu

escrevo
espero
quero

quero,
penso

penso,
sou

sou,
espero

espero,
sonho

sonho,
desejo

desejo meu,
sonho eu.

R. Munhoz
Mais um,
menos um,
não faz a mínima diferença.
nasce um,
morre um,
assassinado ou de doença.

Pessoas são linhas,
suas histórias são poemas,
mas quando uma morre,
mesmo assim,
nenhuma diferença.

Você a sabe,
mas não a conhece
você nem sabe
e ela desaparece.

Pessoas somem
ninguém percebe,
ninguém percebe.

Ninguém vê
o que acontece

A morte aparece.

...

A vida nasce

Uma nova linha se faz
ninguém olha pra trás

Finalmente traz-se um ponto
alinha-se ao momento
um pouco de paz.

A história acontece
um pouco de esperança,
a cada poesia que nasce
um novo dia na semana

E que cada verso que desce
seja uma dança
que seja a arte que se lança,
a lança que fere o pulmão
e faz respirar diferente

mas ainda,
mais um, menos um
não faz diferença
nasce um,
morre um
assassinado ou de doença.

R.Munhoz

Querer

Quem precisa de flores?
talvez as abelhas 
ou ainda beija-flores

Não os astros as precisam
e nem mesmo os astronautas
não os répteis os necessitam
e nem mesmo as najas

Porque não ser como aqueles?
os que querem apenas o que precisam
e não os que precisam porque querem

Não somos nós esses
somos nós!

Queremos o que podemos querer
queremos nossos quereres
precisamos,
porque não podemos nos conter

Queria ser como aqueles,
os mesmos de antes

Não sou um desses
sou eu
Não somos esses
somos nós

R.Munhoz

sábado, 19 de janeiro de 2013

o garoto que gostava de café

          - Néctar, mesmo que amargo, torna a vida doce. – disse a jovem enquanto erguia aquela caneca cheia de café e levava a sua boca.
Então o garoto riu, pensou ser irônica a afirmação. Aproximou-se da garota e perguntou o porquê de tanta frescura para beber uma simples xícara de café. Ela respondeu:
- Beba um gole.
Ele bebeu, pediu ao garçom da lanchonete mais uma xícara, sentou-se ao lado da garota, e ao receber seu café, bebeu, sentiu seu sangue circulando, sentiu-se vivo, assim ele soube que tudo o que precisava era de uma xícara de café todo o dia.
Chegou em sua casa, sentou-se em sua cama, bebeu mais café, inspirou-se e escreveu um conto, percebeu que sua inspiração o fazia feliz, e soube que tudo o que precisava era de uma xícara de café todo o dia.
Ficou um tempo sem beber café, passou por muitas coisas, estava cansado, sem inspiração, desanimado, aí percebeu que faltava algo: voltou a tomar café e soube que tudo o que precisava era de uma xícara de café todo o dia.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Meus sentidos, seus elementos

Quando ouço aquele vento,
posso ver aquele gelo
que saia do seu olho
quando em mim havia desespero

Quando vejo aquele calor,
percebo que já se foi
talvez ninguém tenha dado valor
e subvertido foi, coberto por um falso amor

Quando sinto a água
passar entre meus dedos
percebi que da mesma forma
a felicidade que escapa, eu tenho cada vez menos

E então acabo provando
o sal das minhas próprias lágrimas
e que agora secando,
parecem terras áridas, como vindas do Saara.

Aí, quando eu sinto aquele cheiro
lembro rapidamente daquele tempo,
em que existia o desejo
de ser feliz a todo o momento.

E agora eu percebo que faltam sentidos
faltam emoções e também os elementos
falta a lembrança daqueles singelos pensamentos
faltam músicas e segredos descobertos
para completar aqueles sentimentos secretos
que não existem mais.

Diário daquele que ousou mexer com o tempo e com o espelho

8 de maio - Incrível, mesmo que eu tenha menos tempo com os meus eus, eu tenho conhecido cada vez mais eus, e tenho conhecido cada vez mais eles, tenho conhecido muito mais a mim dessa forma, não posso negar que ouvir aquele espelho chorando, eu ainda me irrito, também não posso negar que o Tempo tem sido cruel mandando cada vez mais eus e me deixando cada vez menos tempo para eles.
                                            ***
2 de junho - Não tenho porque reclamar, eu consigo suportar os detalhes ruins, até que tenho conseguido organizar tudo, tenho me dividido bem, então o Tempo não vai conseguir me deter, eu tenho conseguido tudo o que eu quero, tenho conseguido tudo o que eu preciso, quem diria que eu iria conseguir vencer o tempo?
                                            ***
16 de julho - Achei que tinha acabado, achei que o Tempo não tinha tanto poder assim, mas agora eu vejo que estava errado. O Tempo é muito mais poderoso que parece, quem o controla deve ser a criatura mais poderosa que existe.
                                            ***  
23 de julho - Tive um sonho, ou talvez tenha sido real, não sei de mais nada, o Tempo tem me deixado confuso... bem, acho que depois dos últimos acontecimentos, não posso mais chamá-lo simplesmente de Tempo. Deixe-me explicar:  Ele me fez uma visita. Você me pergunta quem? Sim, ele, Chronos, o próprio tempo. Ele veio mostrar a mim que não há quem o engane, veio dizer a mim que o castigo viria por não deixá-lo dormir, que as noites de insônia graças ao maldito espelho sentimental e depressivo foram muitas e que eu não ia passar  por isso sem sofrer um pouco. (Maldito espelho!!!)
                                            *** 
21 de setembro - Faz tempo desde a última vez que escrevi aqui, tem sido difícil, não tenho tempo pra mais nada, tenho tido compromissos atrás de compromissos, estudos, trabalho, relacionamento, família... Nem dormir tenho conseguido mais, afinal, deixei Chronos sem dormir, acho que para ele é justo. 
                                            *** 
9 de outubro - Tentei parar de reclamar, mas não consigo, Chronos tem sido bastante cruel, faz semanas desde a última vez que consegui falar com um de meus eus, não tenho conseguido estudar o suficiente, e fica cada vez pior, eu queria ao menos entender como parar isso tudo. 
                                            *** 
30 de novembro - Esse mês eu fiz aniversário. É irônico como eu deveria ser grato por ser um ano mais velho quando isso não traz vantagem alguma, significa menos um ano de vida, menos tempo pra viver, e não bastando Chronos ainda estar bravo comigo já que não conseguiu dormir desde o início do choro do espelho... Chronos... Egoísta, megalomaníaco, queria que me deixasse em paz, não aguento mais, se ele é tão poderoso assim, porque não para o espelho agora?
                                            *** 
31 de dezembro - Final de ano, festa, felicidade, esperança... Pra quem? Para um povo conformista, que vive uma vida medíocre, que não reconhece o valor da liberdade? Um povo acostumado a viver a vida que lhes é atribuída? De fato, temos que perder o que temos para darmos valor, perdi a minha liberdade, virei escravo do tempo, vivo para ele, mendigando um minuto a mais de sono pela manhã, um minuto a mais acordado antes de dormir, um minuto a mais para passar com as pessoas que eu quero, trinta segundos a mais para que eu possa terminar o trabalho que tenho que entregar agora... Talvez eu precise de um pouco dessa esperança de que tanto falam, talvez precise ser um pouco mais ingênuo, e talvez assim consiga me libertar de Chronos, mas ainda é inegável a tirania do mesmo. Entenda que eu valorizo o tempo, isso já não é suficiente?
                                            *** 
1 de janeiro - Pela primeira vez em muito tempo tenho uma resposta. Essa noite chegou aos meus olhos alguém idêntico a Chronos, alguém que eu podia jurar que era ele, porém mais novo. Sinceramente, não entendo onde está o poder de Chronos se ele não pode deixar a si mesmo mais novo... Mas enfim, o que interessa é que eu vi ele, mas não era ele, tinha uma voz mais sábia, mas ao mesmo tempo mais jovem, uma voz que me compreendia, e que por mais que estivesse sonolento, ficava calmo e não irritado. Era seu filho, Kairós, O tempo certo, O momento oportuno. Ele é aquele que sabe como aproveitar o tempo, ele não é afobado, nem megalomaníaco, nem arrogante como seu pai, por que sabe que ele tem todo o tempo do mundo para ter tudo, e ele tinha também todo o tempo do mundo para me ensinar a aproveitar o tempo, em uma noite, conseguiu me dizer tudo o que eu precisava fazer, mas agora estou com sono, melhor dormir.
                                            *** 
2 de janeiro - Kairós apareceu aquela noite, e me disse algo que me fez rever tudo o que aconteceu. Kairós disse que eu precisava de tempo para mim mesmo. Fiquei tão preocupado em rever meus eus, conversar com meus eus, ver filmes, ouvir músicas, fazer tudo isso com os meus eus, que acabei esquecendo de olhar para o eu mais importante, o único eu que sempre está comigo. Eu. Às vezes é necessário ser egoísta para manter o tempo oportuno, oportuno, era o que eu precisava, tempo para mim mesmo, tempo para me olhar no espelho, tempo para descansar, ler um bom livro... Tudo ia se acertar em breve.
                                            ***   
14 de janeiro - Meu último problema foi de fato resolvido, me sinto livre, agora que tenho tempo para mim, agora que penso em mim, agora que voltei a olhar para o espelho, por mais que nele só tenham sombras do meu passado, sei que essas sombras aos poucos vão adquirir a minha imagem, como posso exigir ao espelho que lembre o meu rosto quando não me via a muito tempo, ainda mais que ele estava cheio de lágrimas nos olhos... Enfim, convidei-o para tomar um café, fiz as pazes com esse chorão, mas valeu a pena, me sinto em paz novamente, tenho a minha vida em minhas mãos, não dependo completamente do tempo, mas agora entendo o seu poder. Kairós, o tempo oportuno, é de fato a base para entendê-lo, saber aproveitar o que se tem, mesmo que seja pouco, é a base para o que eu preciso, e agora eu tenho!

Soneto dos sonhos

E se eu pudesse saber
tudo o que vai acontecer
o que será que eu mudaria?
Talvez nada.

E se ao olhar pro céu
eu visse rostos nas nuvens
acho que jogaria ao léu
tudo o que faz feliz os homens

Mas se eu pudesse voar
nadaria em nuvens de algodão
pularia no ar, não importando a estação

E ao sonhar
saberia que acordado eu me encontro
poderia me espelhar, em meio ao sono.


A lua foi ao cinema,
passava um filme engraçado,
a história de uma estrela
que não tinha namorado.

Não tinha porque era apenas
uma estrela bem pequena,
dessas que, quando apagam,
ninguém vai dizer, que pena!

Era uma estrela sozinha,
ninguém olhava pra ela,
e toda luz que ela tinha
cabia numa janela.

A lua ficou tão triste
com aquela história de amor
que até hoje a lua insiste:
- Amanheça, por favor!
Paulo Leminski