terça-feira, 11 de setembro de 2012

Olhos do cão


                Olhos que não vêem cor. A vida em tons de cinza. Nunca precisei me importar com isso, já que tudo o que eu precisava, conseguia através do faro. Tinha o necessário pra viver, vivia com dificuldades, mas vivia.
                Um dia saí atrás de comida, faminto procurava uma forma de me manter. Fui procurando e procurando, com medo de morrer de fome. Achei comida.
                Nunca vi nada como aquilo que agora meus olhos presenciavam, era como se tudo que tivesse visto antes fosse lixo. Mexia com as patas, cheirava, enquanto via se era verdade o que minha mente me mostrava.
                Antes, já tinha comido todo o tipo de comida que eu podia encontrar, mas perto disso tudo que eu já havia comido, eram meros restos – Bem, de fato eram restos – Carnes que secaram pelo tempo, sempre muito osso ou muita gordura – Não que eu esteja reclamando, sempre me divertia roendo ossos e sempre me fartava com gordura – às vezes me deparava com pessoas que me davam ração ou biscoitos, pessoas generosas, ou nem tanto, davam-me comida e sumiam, deixando uma quantidade pequena de ração para que eu conseguisse passar o dia, mas nunca em toda a minha vida provei nada como o que eu estava vendo. Aquele banquete, com cheiro que me atraia de tal modo que eu parecia não ter controle sobre minhas patas, minha cauda ou sobre qualquer outra parte do meu corpo.
                Agora eu via algo que nunca antes vira, uma espécie de alimento que nunca acabava que me fazia satisfeito, mas não me fartava não me tirava só à fome, mas também o vazio do meu peito, o vazio da minha mente. Fazia-me tão bem, que agora e podia ver as cores, cores que agora preciso conhecer melhor, preciso saber se aquela cor do topo das árvores é o que chamam de azul, ou se é o que chamam de verde. Só o que falta pra mim agora, é saber se a vida vai deixar de ser tão cinza.

Ramesses M.

domingo, 9 de setembro de 2012

Amargo Setembro

Era uma vez uma amizade... Era uma vez...
Muitos deveriam estar conosco... Deveriam...
Entre os quatro que foram... Três ficaram...
O quarto isolado, era o único que estava com a razão, deveria ser o mais imaturo, o mais infantil, o mais iludido, e o que mais queria chamar atenção... Era o que parecia...
Um ano se passara e pouco sobrou dos momentos que se lembram.  Mas vamos voltar para o fatídico dia. Tudo se mostrava ótimo, com exceção da chuva, que na verdade fazia com que tudo fosse do jeito que era pra ser- aconteceu da melhor maneira- Estávamos os quatro, fomos até a água, sem medo de ficar doentes, molhamos os pés, olhamos o céu, nos encontramos. Parecia algo sobrenatural a forma como nos sentíamos, o modo como parecíamos estar ligados por um fato simples, por um ato simples. Um de nós ficou pra trás...
Este um ficou com medo de ficar doente, esse um de nós ficou triste, meio afastado por não ter a atenção que queria... Motivos errados, ações corretas. Foi embora.
Os Três que sobraram, voltaram à terra, foram tomar sorvete e caminhar, se sentaram em bancos molhados, se abraçaram, fizeram mais promessas vazias – que na época não eram tanto – e se foram.
Aproveitaram bastante enquanto tiveram tempo, até que as coisas começaram a mudar. Viveram como um enquanto podiam, enquanto os que ainda lá estavam se mantinham sendo quem eram. Todos mudaram, do dia pra noite. O que era pra ser uma amizade começou a ser ciúmes, medo, raiva, pretextos... Enquanto um deles tentava fazer a mediação, um corria atrás do outro. Um deles agia como idiota, pois tinha tudo e queria mais, acabou perdendo tudo e vivendo uma farsa... Um deles agia como outra pessoa, até hoje não sei o que se passava nessa mente, mas havia muita confusão lá. O outro apenas chorava, pois via que tudo tinha sido em vão, e tudo o que acreditava ser pra sempre não era, e estava acabando.
O importante é que no final a verdade sempre aparece, o ruim acaba sendo bom. Os dois que sobraram, continuaram, embora com dificuldades tempo-espaciais... Aquele que no inicio se excluiu, também voltou, e ficaram os 3 sendo o que o grupo deveria ser desde o inicio. 

O passado


Cheiro de madrugada, cheiro de infância... Cheiro de madrugada na infância. Ruas vazias, lembranças de tempos em que parecia outra pessoa. Ou na verdade nem tanto. Mas o que importa é que aquele cheiro era uma lembrança que vinha junto com aquela música, música que eu ouvia e cantava afinal a letra era exatamente o que eu pensava.
O medo de perder coisas importantes por acontecimentos passados, medo de perder a felicidade prometida a mim por causa de um pseudo eu, alguém que está comigo, mas não sou exatamente “eu”. Eu sempre tive uma teoria maluca que dizia que por existirem vários “eu” deveria existir um momento que eu deixasse de agir como eu para agir como outras pessoas. Uma chance de ser alguém que não eu, mas não uma chance agradável. Uma chance de fazer coisas que eu considero abomináveis simplesmente pelo prazer de fazê-los.
Bem, aquela música em meio a frases de minha história, dizia tudo, acabava com a felicidade e me transformava em um idiota, talvez eu fosse esse idiota no passado, mas não agora... Talvez ainda fosse, mas agora em um sentido diferente. Bem, minha história ia passando diante da minha boca, ecoando em meus ouvidos, enquanto minha mente pensava: “não quero mais essas lembranças, se o futuro e o presente são o que interessa”. Na verdade não passa de ilusão. Afinal o passado constrói quem somos, e dá os detalhes, toques finais para os eventos futuros...
Voltando ao assunto. Aquela música não saía da minha cabeça, mas na verdade eu só pensava em uma parte da música, pois tinha medo que a próxima parte não fosse “acontecer”... - Se eu te contasse coisas que eu fiz antes, te contasse como eu era, ainda estaríamos da mesma forma?- me esquecia de um fato importante... – não importa o que tenhas feito, estaríamos ainda do mesmo jeito. – depois de tudo percebi que na verdade, o passado não importava mesmo.
De fato, se eu pudesse mudar coisas no meu passado, eu pensaria seriamente em mudar, mas não tenho mais tanta certeza sobre algumas coisas, se eu tivesse mudado o passado, meu presente não seria como é. Se eu tivesse deixado de errar no passado, não teria aprendido, não teria mudado, não teria melhorado, talvez hoje eu deixasse aquele “pseudo eu” agir sempre por mim, mas não, meu passado fez com que hoje eu fosse quem eu sou, e acredito que este seja eu de verdade e eu não existiria se não fossem meus erros, eu não existiria se não fossem meus arrependimentos. Eu não seria eu se hoje não existisse um porque para eu me manter são, e eu encontrei um porque, e esse porque não exige que meu histórico seja limpo, mas que eu tenha aprendido o que eu aprendi, como eu aprendi, e que seja eu, como hoje eu sou.
Não adianta ter medo do passado, o passado faz parte do ser. Não adianta querer fugir do ser, pois este sempre mostra ser quem é. Não dá pra tentar escapar de uma realidade, mas dá para enfrentá-la e mostrar que depois do passado existe um presente e um futuro, e que estes podem ser melhores.

domingo, 2 de setembro de 2012

Para Ela


Não sei se fui eu, ou se foi ela, ou ainda se foi simplesmente os poderes do tempo, mas eu a achei.  A capacidade de sorrir ao simplesmente ver aquela pessoa que simplesmente está ali perto de mim, a capacidade de mudar tudo simplesmente ao receber um abraço, o poder de me fazer ser quem eu sou, sem mentiras, sem disfarces, sem maquiagem, isso tem ela!
Parece que é um sonho toda a vez que eu acordo, parece que eu entrei num universo paralelo onde as coisas que me fazem feliz acontecem, parece que foi construída criatura que tinha tudo o que eu queria e tudo o que eu precisava ao mesmo tempo. Essa é ela!
Acordar antes de dormir, ou talvez aconteça ao mesmo tempo. Tudo agora é anormal tudo está fora do lugar, mas é assim que eu prefiro. Viver o paraíso antes mesmo de morrer é o que agora eu faço, esqueço o passado, me preparo para o futuro, mas vivo o hoje, não só o hoje, mas o hoje, o amanhã e o eternamente, se estou olhando para o céu, já que ela lá sempre está. A lua é ela!
Antes a vida precisava de algo, nem mesmo o mel dava sabor a minha vida, precisava de algo diferente, um tempero novo, talvez sal... Algo que realmente me tornasse algo, e bom se eu o sódio sou eu, O cloro é ela!
Tudo tem inicio, e o que era pra ter iniciado, começou.  Tudo tem meio, e o que está na metade, da metade já passou. E ainda que tudo tenha um fim, esse fim não pode ser definido a menos que já tenha acontecido, não é possível dar detalhes de um fim que ainda não chegou a acabar. Nada é para sempre, mas meu fim é com ela!