Olhos
que não vêem cor. A vida em tons de cinza. Nunca precisei me importar com isso,
já que tudo o que eu precisava, conseguia através do faro. Tinha o necessário
pra viver, vivia com dificuldades, mas vivia.
Um dia
saí atrás de comida, faminto procurava uma forma de me manter. Fui procurando e
procurando, com medo de morrer de fome. Achei comida.
Nunca
vi nada como aquilo que agora meus olhos presenciavam, era como se tudo que
tivesse visto antes fosse lixo. Mexia com as patas, cheirava, enquanto via se
era verdade o que minha mente me mostrava.
Antes,
já tinha comido todo o tipo de comida que eu podia encontrar, mas perto disso
tudo que eu já havia comido, eram meros restos – Bem, de fato eram restos –
Carnes que secaram pelo tempo, sempre muito osso ou muita gordura – Não que eu
esteja reclamando, sempre me divertia roendo ossos e sempre me fartava com
gordura – às vezes me deparava com pessoas que me davam ração ou biscoitos,
pessoas generosas, ou nem tanto, davam-me comida e sumiam, deixando uma
quantidade pequena de ração para que eu conseguisse passar o dia, mas nunca em
toda a minha vida provei nada como o que eu estava vendo. Aquele banquete, com
cheiro que me atraia de tal modo que eu parecia não ter controle sobre minhas
patas, minha cauda ou sobre qualquer outra parte do meu corpo.
Agora
eu via algo que nunca antes vira, uma espécie de alimento que nunca acabava que
me fazia satisfeito, mas não me fartava não me tirava só à fome, mas também o
vazio do meu peito, o vazio da minha mente. Fazia-me tão bem, que agora e podia
ver as cores, cores que agora preciso conhecer melhor, preciso saber se aquela cor
do topo das árvores é o que chamam de azul, ou se é o que chamam de verde. Só o
que falta pra mim agora, é saber se a vida vai deixar de ser tão cinza.
Ramesses M.