quarta-feira, 31 de julho de 2013

Sei lá

               Sabe aquela taça vazia na sua frente? (Sei lá), pois é, não tem nada a te oferecer. De tanto beberes, já esvaziaste, secaste até as lágrimas que derramaste sobre ela. Já cansaste de servir novamente o champagne? (Sei lá) Já estás embriagado e nem sabes.
               Tuas dores te fizeram anestesiado e tu insistes nessa taça vazia? (Sei lá) Pois é, a dor pode voltar. E talvez seja por isso que ao invés de voltar a encher a taça, agora bebes o champagne direto da garrafa, sugando tudo o que ele tem a oferecer. Sei lá é tudo o que dizes, não importa o que aconteça com o champagne da garrafa. O gás das bolhas te enche, o líquido amarelado te deixa com mais medo do que está por vir, mas ao invés de parares e deixares a garrafa em paz, continuas esvaziando quem supostamente te faz bem. 
               Não quero te criticar por gostares tanto de champagne, mas só terá algo a te oferecer, enquanto tiver algum conteúdo, se esvaziares não terá mais champagne e será tão vazio quanto a taça, tão vazio quanto tu, sim, tu és vazio, vazio de tanto "sei lá". 
               Queres te encher com champagne, mas o champagne acaba. Respire, enche-te com o ar, o ar volta, enche-se novamente, e então podes usá-lo novamente. Olha para o mar e mergulha, te sentirás cheio e não precisarás esvaziar o mar. Enche-te com quem pode te encher, pois quem esvazia precisa ser enchido novamente, como a taça, como a garrafa.
               Mas se tanto insistes no teu champagne, ao menos prepare um vinho, e encha a garrafa no final. Que os pensamentos borbulhantes e turvos se tornem sangue, que suas uvas mudem de cor. Que tu entendas que as coisas têm que mudar se quiseres te encher.