sexta-feira, 1 de março de 2013

Pontual (Last Nite) (Parte II)


Naquele dia, algo peculiar aconteceu. Pedro transpareceu suas dúvidas, suas tristezas. Era uma mudança enorme, entendia que sua pontualidade é que causava tudo isso, mas ainda sim queria tudo isso, sabia que ia mudar de vida, mas isso o preocupava. Melissa o abraçou. Sabendo tudo isso, disse:
- Ei, pê. Vai tudo ficar bem. Lembre-se da última noite, quando fizeram uma festa para você... Ainda que nem tenhas me convidado para ir ontem, ainda que eu não conheça quase ninguém que estava lá, sei que todos fizeram aquilo para te alegrar. São grandes mudanças, claro que são, mas tens com o que te preocupar, tens muitas pessoas contigo, e ainda que tenhas problemas com teus pais, acredito que eles também te ajudariam.
- É, não conheces meus pais...
- Eu sei que não, mas eles são teus pais, te amam.
- Eu quero que os conheça.
- Mas... Tudo bem, acho que é uma boa ideia.
- Eu sei que é meio cedo, não parece nem um pouco comigo, mas na situação atual, é o melhor a fazer, sabes que não é o melhor momento da minha vida.
Saíram do restaurante, foram dar uma volta. Acabaram indo pra casa dela, onde começaram a ouvir The Velvet Underground, viram filmes, e quando começava a anoitecer, Melissa via no rosto de Pedro uma tristeza que não ia embora. Disse:
- Oh baby, I feel so down.
- Não fica assim, meu bem, sabes que te ver bem vai me fazer bem, afinal, és uma das únicas coisas que ainda me fazem feliz. Oh baby, I don’t care no more.
E se despediram. Pedro foi pra casa, passando uns 15 minutos na rua, na cidade, pensando que não havia nada que o poderia deixar melhor. O que foi dito até agora, não explicou completamente o motivo da tristeza dele, mas isso vai ser explicado agora:
- Eu sonhei toda minha vida com este dia, o dia em que finalmente me livraria de tudo o que me causa problemas... Eu sei que assumiria novos problemas, mas melhores que os anteriores, ao menos é o que acho. – dizia em sua mente. – Eu tinha tantas expectativas, pensava que estaria trabalhando agora, e que nesse dia estaria me preparando para sair da casa dos meus pais. Não que eu não os ame, mas não consigo mais viver no meio de tanta arrogância, tanto orgulho. Esse não é o meu estilo de vida. Mas ninguém entende, as pessoas não entendem a dor que me causa, permanecer em um lugar que não me faz bem, um lugar que só me causa dor, já não me bastam os problemas que eu tenho fora de casa? Mas é isso, eles não entendem, e isso nem melissa entenderia, na verdade nem eu entenderei completamente.
Isso é o suficiente pra explicar, creio eu. No dia seguinte, novamente em um monólogo, começou:
- Last Night, she said, oh baby I feel so down. She had turned me off, when I feel left out. So I, I turned around: (and said) Oh little girl I don’t care no more, I know this for sure. E fui embora.

Pontual (12:51) (Parte I)


- Feliz aniversário! – Diziam aquelas vozes a Pedro. Uma multidão de amigos de seus pais, família, e algumas pessoas que ele convidou para o seu aniversário. Enquanto ele, em um canto qualquer, ficava pensando que tudo o que faziam aquele momento não tinha serventia nenhuma para ele, não estavam o deixando mais feliz por lembrarem-se dessa data.
De fato, ele não era desses que gostavam de lembrar-se do seu aniversário, já que para esse tipo de gente, aniversários só significam ficar mais velho, ter menos tempo de vida sobrando. Era o caso de Pedro, ainda mais fazendo 18.
Pedro era pontual, gostava de fazer tudo na hora certa, e ter 18 significava sim sair de casa, trabalhar, correr atrás do tempo, não olhar pra trás. Significava sim deixar de ser quem era antes pra ser um adulto. Essa pontualidade se mostrou quando no dia real de seu aniversário, havia chegado atrasado um minuto, num almoço marcado para 12h50min. Esse minuto era proposital, ficou exatamente um minuto fora do restaurante para onde ia, acalmando-se. Não quisera convidar a pessoa com quem iria almoçar para estar presente no dia anterior, mas estava ali, naquele dia, 12h51min, respirando fundo antes de entrar.
Já estava lá dentro a pessoa que com ele ia almoçar, a única pessoa que ainda conseguia fazê-lo por a cabeça no lugar enquanto ele perdia cabelos se preocupando com coisas não tão importantes da vida (de fato, Pedro reclamava demais). Melissa, sua namorada a umas semanas, uma ruiva que adora cinema e as mesmas bandas que Pedro.
 Quando estava perto de Melissa, tudo o que o preocupava sumia, ele ficava feliz. Ela o entendia, colocava-se no lugar dele, e estava lá o apoiando nas suas futuras decisões.Melissa disse:
- Parabéns, amor. – e se aproximando dele cantarolou – “Kiss me now that you’re older”. - Lembrando-se de uma das músicas favoritas de seu namorado.
- Sabes que é “Kiss me now that I’M older”. – Respondeu, fingindo estar bravo.
- Mas és tu que estás mais velho. – Melissa ao dizê-lo fingiu cara de triste . – Não reclame e venha aqui.
Ambos começaram a rir e se abraçaram. Sim, se beijaram também. Sentaram-se e comeram. Conversaram, riram. Ambos vestidos quase como nos anos 40, em um restaurante que também lembrava um pouco essa época. Sentiam-se tranquilos e em “casa” em lugares assim, quase como se pertencessem a essa era.
Lá tocava músicas dos anos 70, que eles adoravam. Sem se importar com nada, foram para o meio do restaurante e começaram a dançar. Chamavam a atenção de todos, pessoas conhecidas e desconhecidas, mas aos poucos, todos começavam a se levantar e dançar também. Melissa era a mais jovem ali, com seus 16 anos. Pedro com seus 18, naquele meio ainda parecia uma criança ao ver pessoas com 40 anos se levantarem e começarem a dançar, foi incrível a cena. Olharam o que estava acontecendo e sentaram-se rindo de velhinhos de uns 60 anos juntando-se a festa.