Naquele dia, algo peculiar
aconteceu. Pedro transpareceu suas dúvidas, suas tristezas. Era uma mudança
enorme, entendia que sua pontualidade é que causava tudo isso, mas ainda sim
queria tudo isso, sabia que ia mudar de vida, mas isso o preocupava. Melissa o
abraçou. Sabendo tudo isso, disse:
- Ei, pê. Vai tudo ficar bem.
Lembre-se da última noite, quando fizeram uma festa para você... Ainda que nem tenhas
me convidado para ir ontem, ainda que eu não conheça quase ninguém que estava
lá, sei que todos fizeram aquilo para te alegrar. São grandes mudanças, claro
que são, mas tens com o que te preocupar, tens muitas pessoas contigo, e ainda
que tenhas problemas com teus pais, acredito que eles também te ajudariam.
- É, não conheces meus pais...
- Eu sei que não, mas eles são
teus pais, te amam.
- Eu quero que os conheça.
- Mas... Tudo bem, acho que é uma
boa ideia.
- Eu sei que é meio cedo, não
parece nem um pouco comigo, mas na situação atual, é o melhor a fazer, sabes
que não é o melhor momento da minha vida.
Saíram do restaurante, foram dar
uma volta. Acabaram indo pra casa dela, onde começaram a ouvir The Velvet Underground,
viram filmes, e quando começava a anoitecer, Melissa via no rosto de Pedro uma
tristeza que não ia embora. Disse:
- Oh baby, I feel so down.
- Não fica assim, meu bem, sabes
que te ver bem vai me fazer bem, afinal, és uma das únicas coisas que ainda me
fazem feliz. Oh baby, I don’t care no
more.
E se despediram. Pedro foi pra
casa, passando uns 15 minutos na rua, na cidade, pensando que não havia nada que
o poderia deixar melhor. O que foi dito até agora, não explicou completamente o
motivo da tristeza dele, mas isso vai ser explicado agora:
- Eu sonhei toda minha vida com
este dia, o dia em que finalmente me livraria de tudo o que me causa
problemas... Eu sei que assumiria novos problemas, mas melhores que os
anteriores, ao menos é o que acho. – dizia em sua mente. – Eu tinha tantas
expectativas, pensava que estaria trabalhando agora, e que nesse dia estaria me
preparando para sair da casa dos meus pais. Não que eu não os ame, mas não
consigo mais viver no meio de tanta arrogância, tanto orgulho. Esse não é o meu
estilo de vida. Mas ninguém entende, as pessoas não entendem a dor que me
causa, permanecer em um lugar que não me faz bem, um lugar que só me causa dor,
já não me bastam os problemas que eu tenho fora de casa? Mas é isso, eles não
entendem, e isso nem melissa entenderia, na verdade nem eu entenderei
completamente.
Isso é o suficiente pra explicar,
creio eu. No dia seguinte, novamente em um monólogo, começou:
- Last
Night, she said, oh baby I feel so down. She had turned me off, when I feel left
out. So I, I turned around: (and said) Oh little girl I don’t care no more, I
know this for sure. E fui embora.