domingo, 9 de setembro de 2012

O passado


Cheiro de madrugada, cheiro de infância... Cheiro de madrugada na infância. Ruas vazias, lembranças de tempos em que parecia outra pessoa. Ou na verdade nem tanto. Mas o que importa é que aquele cheiro era uma lembrança que vinha junto com aquela música, música que eu ouvia e cantava afinal a letra era exatamente o que eu pensava.
O medo de perder coisas importantes por acontecimentos passados, medo de perder a felicidade prometida a mim por causa de um pseudo eu, alguém que está comigo, mas não sou exatamente “eu”. Eu sempre tive uma teoria maluca que dizia que por existirem vários “eu” deveria existir um momento que eu deixasse de agir como eu para agir como outras pessoas. Uma chance de ser alguém que não eu, mas não uma chance agradável. Uma chance de fazer coisas que eu considero abomináveis simplesmente pelo prazer de fazê-los.
Bem, aquela música em meio a frases de minha história, dizia tudo, acabava com a felicidade e me transformava em um idiota, talvez eu fosse esse idiota no passado, mas não agora... Talvez ainda fosse, mas agora em um sentido diferente. Bem, minha história ia passando diante da minha boca, ecoando em meus ouvidos, enquanto minha mente pensava: “não quero mais essas lembranças, se o futuro e o presente são o que interessa”. Na verdade não passa de ilusão. Afinal o passado constrói quem somos, e dá os detalhes, toques finais para os eventos futuros...
Voltando ao assunto. Aquela música não saía da minha cabeça, mas na verdade eu só pensava em uma parte da música, pois tinha medo que a próxima parte não fosse “acontecer”... - Se eu te contasse coisas que eu fiz antes, te contasse como eu era, ainda estaríamos da mesma forma?- me esquecia de um fato importante... – não importa o que tenhas feito, estaríamos ainda do mesmo jeito. – depois de tudo percebi que na verdade, o passado não importava mesmo.
De fato, se eu pudesse mudar coisas no meu passado, eu pensaria seriamente em mudar, mas não tenho mais tanta certeza sobre algumas coisas, se eu tivesse mudado o passado, meu presente não seria como é. Se eu tivesse deixado de errar no passado, não teria aprendido, não teria mudado, não teria melhorado, talvez hoje eu deixasse aquele “pseudo eu” agir sempre por mim, mas não, meu passado fez com que hoje eu fosse quem eu sou, e acredito que este seja eu de verdade e eu não existiria se não fossem meus erros, eu não existiria se não fossem meus arrependimentos. Eu não seria eu se hoje não existisse um porque para eu me manter são, e eu encontrei um porque, e esse porque não exige que meu histórico seja limpo, mas que eu tenha aprendido o que eu aprendi, como eu aprendi, e que seja eu, como hoje eu sou.
Não adianta ter medo do passado, o passado faz parte do ser. Não adianta querer fugir do ser, pois este sempre mostra ser quem é. Não dá pra tentar escapar de uma realidade, mas dá para enfrentá-la e mostrar que depois do passado existe um presente e um futuro, e que estes podem ser melhores.

Nenhum comentário:

Postar um comentário