Cheiro de madrugada, cheiro de infância... Cheiro de
madrugada na infância. Ruas vazias, lembranças de tempos em que parecia outra
pessoa. Ou na verdade nem tanto. Mas o que importa é que aquele cheiro era uma
lembrança que vinha junto com aquela música, música que eu ouvia e cantava
afinal a letra era exatamente o que eu pensava.
O medo de perder coisas importantes por acontecimentos
passados, medo de perder a felicidade prometida a mim por causa de um pseudo
eu, alguém que está comigo, mas não sou exatamente “eu”. Eu sempre tive uma
teoria maluca que dizia que por existirem vários “eu” deveria existir um
momento que eu deixasse de agir como eu para agir como outras pessoas. Uma
chance de ser alguém que não eu, mas não uma chance agradável. Uma chance de
fazer coisas que eu considero abomináveis simplesmente pelo prazer de fazê-los.
Bem, aquela música em meio a frases de minha história, dizia
tudo, acabava com a felicidade e me transformava em um idiota, talvez eu fosse
esse idiota no passado, mas não agora... Talvez ainda fosse, mas agora em um
sentido diferente. Bem, minha história ia passando diante da minha boca,
ecoando em meus ouvidos, enquanto minha mente pensava: “não quero mais essas lembranças,
se o futuro e o presente são o que interessa”. Na verdade não passa de ilusão.
Afinal o passado constrói quem somos, e dá os detalhes, toques finais para os
eventos futuros...
Voltando ao assunto. Aquela música não saía da minha cabeça,
mas na verdade eu só pensava em uma parte da música, pois tinha medo que a
próxima parte não fosse “acontecer”... - Se
eu te contasse coisas que eu fiz antes, te contasse como eu era, ainda estaríamos
da mesma forma?- me esquecia de um fato importante... – não importa o que tenhas feito, estaríamos ainda
do mesmo jeito. – depois de tudo percebi que na verdade, o passado não
importava mesmo.
De fato, se eu pudesse mudar coisas no meu passado, eu
pensaria seriamente em mudar, mas não tenho mais tanta certeza sobre algumas
coisas, se eu tivesse mudado o passado, meu presente não seria como é. Se eu
tivesse deixado de errar no passado, não teria aprendido, não teria mudado, não
teria melhorado, talvez hoje eu deixasse aquele “pseudo eu” agir sempre por
mim, mas não, meu passado fez com que hoje eu fosse quem eu sou, e acredito que
este seja eu de verdade e eu não existiria se não fossem meus erros, eu não
existiria se não fossem meus arrependimentos. Eu não seria eu se hoje não
existisse um porque para eu me manter são, e eu encontrei um porque, e esse
porque não exige que meu histórico seja limpo, mas que eu tenha aprendido o que
eu aprendi, como eu aprendi, e que seja eu, como hoje eu sou.
Não adianta ter medo do passado, o passado faz parte do ser.
Não adianta querer fugir do ser, pois este sempre mostra ser quem é. Não dá pra
tentar escapar de uma realidade, mas dá para enfrentá-la e mostrar que depois
do passado existe um presente e um futuro, e que estes podem ser melhores.
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