terça-feira, 22 de outubro de 2013

Estranho

               Parece estranho eu dizer esta palavra, mas ao mesmo tempo é tão comum que chega a ser clichê. Estranho. Pode significar tanto, pode ser referido a tantas coisas. Mas hoje, Estranho significará e será referido a um único personagem, o Dr. William Eird.
               William, ou como assinava W. Eird era professor numa das maiores faculdades de seu país. Para todos os efeitos, W. Eird era um homem bastante comum, tinha uma casa bem grande, dois carros, dois filhos talentosíssimos, - que sabiam três línguas sem contar a materna, dois instrumentos e ainda pintavam e escreviam - uma esposa linda - e muito inteligente.
               Dava aulas na tal faculdade, e depois ainda conseguia tempo para cuidar de seus filhos, ser carinhoso com sua esposa e ainda pesquisar. Amava pesquisar. [Bem, agora se faz necessário dizer o que ele ensinava/estudava/pesquisava: Façam de conta que eu já disse que ele é Doutor em História Moderna]. E suas pesquisas o transportavam para o mundo em que gostava de viver. Não que não amasse sua vida, mas amava o passado, embora não amasse seu próprio passado.
               Sua vida tinha sido comum antes de conhecer sua esposa e antes de realizar seus sonhos, mas não o era para ele. Para Will, - como era chamado quando jovem - sua vida era complexa, detalhada, cheia de variáveis e nem todas eram consideradas sempre pelos outros, mas novamente, não para ele. William era bastante analista quanto as variáveis e detalhes que caracterizam ou caracterizaram sua vida, ele sempre levava tudo em consideração e isso o dava uma vantagem a ele em sua vida profissional, mas sempre causava problemas em sua própria vida pessoal. Por considerar variáveis demais, detalhes demais e todas as possibilidades possíveis, acabava sempre exagerando, mesmo quando os detalhes considerados não tinham relação alguma.
               Já em relação aos outros, sempre tinha a quantidade exata de fatos que o ajudavam a transcrever a História da vida de seus amigos, e também como seria a vida dos mesmos se decidissem realizar determinadas escolhas, mas não era capaz de prever seus próprios passos, o que o impediu de prever que perderia coisas que até certo momento eram preciosas para ele.
               Deveria saber que tudo o que perdeu era para o seu próprio bem, e sem aquelas perdas não teria ganho o prêmio final. O problema é que não podia conviver com o seu passado em seu presente. Não estava preparado para ouvir o "Como está ---?" porque ficaria sem jeito, não ficaria triste nem irritado, apenas sem jeito, sem saber que reação teria que ter e isso sim o deixava irritado. Era uma cena tão comum e que ia se repetindo ao passar dos séculos, então achava que deveria saber como reagir, mas ainda sim cria mais na visão da antiguidade, na qual, esse tipo de situação resultava em mortes. Mas não, a ideia era matar as lembranças e não pessoas.
               Além disso não podia ver as pessoas de seu passado, mas as via com muita frequência, era como se fosse perseguido por elas. Sentia-se como se fosse um astrônomo durante a inquisição, mas não o era, era um homem do século XXI, um homem que precisava deixar de lado certos causos do seu passado, mas que constantemente vinham a sua mente, quase como se uma voz soprasse todas as lembranças para dentro toda vez que berrava suas memórias para fora.
               Todo esse transtorno o afetava periodicamente, vinha e ia conforme convinha às próprias memórias, não conforme convinha à W. Eird. Realmente o seu passado estava nas suas costas e sempre o perseguindo, mas afinal, o passado faz parte da vida de uma pessoa, não? É o passado que constrói  não só o presente e o futuro, mas tudo o que eles significam. William não deveria esquecer o seu passado, ou ignorá-lo, mas entender que a sua história foi boa para com ele, e fazê-lo conhecer o bem que é a "vida do hoje" se comparado à "vida do ontem". O que William precisava entender, é que o passado dele é que o fez o grande historiador que era hoje.
               Will, mesmo que seja estranho, a sua história o tornou um verdadeiro historiador.

Nenhum comentário:

Postar um comentário