quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

A Vadia Musicista

          Cara, que vadia. Ela é a pura definição do que uma vadia é. E bota vadia nisso. [ É aí que algumas pessoas entram dizendo: Não se fala assim de uma garota.] VADIA. Ela é uma vadia porque ela vadia e não só por ser uma vadia.
          Ao longo de todos esses anos, podendo estar num lugar diferente de onde está, por ser vadia, ficou parada sem ir pra frente, queria ser mais que uma simples vadia, mas tornou-se a vadia mais comum de todas. Não bastasse ser uma vez vadia, tornou-se duas, por ser vadia uma vez, teve que ser a segunda para que um dia deixasse de ser vadia. Mas não é que a vadia gostou de ser vadia?
          Calma, calma, vou contar tudo agora.
          A vadia vai se chamar Vadia aqui.
       Vadia desde pequena gostava de ficar deitada, deixar todo o trabalho de lado, ou de preferência, deixar pra outras pessoas. A pequena vadia tinha sonhos, planos, projetos, quereres e andares como todos nós, mas ela não fazia nada para nada, gostava de vadiar apenas.
         Um dia, Vadia queria aprender música, acabou descobrindo sua voz divina. Era o único instrumento que conseguia tocar sem muito esforço, uma vez que era tão vadia que não gostava de se esforçar pra aprender algo. Vadia era tão vadia que quis aprender todos os instrumentos e acabou não aprendendo nenhum, só cantava.
         Vadia cresceu, terminou a escola depois de muita vadiagem, não quis fazer faculdade, pois era muito vadia, era vadia demais pra trabalhar também e por isso foi sendo sustentada pelos pais até os pais se cansarem da vadia.
         Com o tempo, conheceu outras vadias como ela e aprendeu a ser vadia de outras formas. Conseguiu um emprego. Trabalhou como vadia por menos de um ano e deixou escapar sua voz, que ficou conhecida por ali. Seu chefe disse que pra ela continuar sendo vadia ali, tinha que deixar de ser vadia e aprender a tocar instrumentos para que ela fosse um diferencial naquele lugar.
        Deixou de ser vadia, mas nem tanto, primeiro porque não deixou de trabalhar ali, e segundo porque quando ela foi aprender a tocar os instrumentos, percebeu que tinha uma espécie de dom para aquilo e não precisou se esforçar tanto, a vadia sabia. Que vadia! Aos poucos, no lugar onde era vadia, começou a ir com o violão, a vadia tocava e cantava. Mas que vadia talentosa! Depois, violino, e por último, piano. Para isso, a vadia pediu que seu chefe comprasse um piano no local e que seu nome fosse estampado ali. O Piano da Vadia. 
        O Piano da Vadia fez sucesso, pessoas vinham de todos os lugares para ver a vadia entrar em cena. Ela fazia de tudo com o piano e também com os corações [e outras partes do corpo] das pessoas que iam vê-la. Ela era uma vadia mesmo. Mas era tão vadia, que conforme foi fazendo sucesso, começou a se dar folgas mesmo que não tivesse esse direito. Vadia foi deixando de lado a vida de vadia, já que tinha um dinheiro reservado, mas isso era muita vadiagem e por isso o seu chefe veio falar com ela e disse para a vadia deixar de ser tão vadia e começar a trabalhar direito como uma vadia que se preze.
         Voltou ao piano, voltou a ser vadia-de-tempo-integral, deixando a vida de vadia pra quando fosse se aposentar. Seguindo a rotina, piano, dinheiro na calcinha, um cigarro, um quarto, uma cerveja, um homem, mais um cigarro e de volta ao piano.
          Mas era uma sensação tão grande o Piano da Vadia que um pianista veio de longe para conhecer ela, tentou convencer ela a deixar a vida de vadia, porque com um talento desses ela não precisava trabalhar nesse tipo de ambiente, mas que ao invés disso tocasse piano e vadiasse em casa, onde tudo começara. Mas não bastasse isso. Uma oferta bastante tentadora para uma vadia como ela, mas a vadia não queria deixar a vida dela, ela amava ser vadia, ou ao menos tinha aprendido a amar a vida de vadia que estava tendo. E por mais que o pianista fizesse ofertas cada vez mais sedutoras para a jovem vadia, ela não quis, quis ser vadia lá, onde estava. Depois de até mesmo o pianista ofertar a própria casa para ela vadiar, ela não quis, preferiu ser vadia.
          Que vadia!

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