Sentado na cozinha, uma xícara na mão, um olhar distante, um prendedor no varal.- Por que não tem roupas nele? - Não há ninguém em casa, só eu e os pássaros no telhado, também moscas nas frutas, nada de relevante.
Torno a olhar para o varal, olhar aquele único prendedor em uma corda, uma linha enorme. Me aproximo e percebo que tem um outro prendedor, agora um prendedor com algo preso, uma meia. Com um gole do líquido preto, amargo, quente e esclarecedor, penso: Eu não sou um prendedor.
Me encontro cada vez mais próximo daquela meia solitária e a solto. Eu não sou um prendedor. Não prendo nada, não prendo ninguém, não me prendo. Foi necessário um prendedor, um líquido-oráculo e vários anos para que eu entendesse que se a minha vida fosse um varal, esses prendedores estariam marcando interrupções. Vazio ou com roupas, só modificaria o peso da interrupção, vazio ou com roupas, só determinaria se a interrupção envolve outras pessoas ou não.
Eu não sou um prendedor, e quero não prender nada, também não quero ser preso. Quero ser livre, e quero estar ali, na vida pacata de um varal. ficar parado, pouco tensionado, às vezes relaxado, às vezes esticado, porém nunca cheio, também nunca vazio, mas que não hajam prendedores para que não hajam pesos, que haja leveza e liberdade, não só para mim, para todos, já que como eu falei: Eu não sou um prendedor.
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